Quem a homofobia matou hoje?
Um crime induzido pela cultura e mascarado pela impunidade
Começar esse texto com “infelizmente, a homofobia existe” é apenas uma forma de adiar, usando o óbvio, o que de fato precisa ser dito. Além de existir, a homofobia mata, maltrata, tortura e dilacera.
A cada 25 horas, ao menos uma pessoa LGBTQ+ é assassinada no Brasil. Segundo dados da ONG Grupo Gay da Bahia (GGB), até setembro de 2017, foram registrados 277 homicídios.
Trata-se da maior média de assassinatos desde o início das pesquisas e a realidade é possivelmente mais triste, devido à falta de registros contra esses homicídios, que ainda é um grave problema no Brasil.
Foto: Reprodução/UOL
É preciso falar também da íntima relação que existe entre homofobia e suicídio.
Um estudo da Universidade de Columbia (EUA) concluiu que a chance de uma pessoa LGBT+ cometer suicídio é 5 vezes maior que uma pessoa heterossexual. Um em cada dezesseis homossexuais com idade entre 16 e 24 anos tentou tirar a própria vida e 50% afirmam ter sofrido violência por alguém da própria família.
Em entrevista ao UOL, Marcelo Cerqueira, do GGB, explica que o aumento da violência contra as pessoas LGBT é resultado de uma série de fatores.
“Tem o aspecto cultural, e esse é o pior de todos, que é considerar essas pessoas de segunda categoria.”
Existe também a questão da impunidade dos crimes. Muitos não chegam nem a ter um desfecho, ou seja, homofóbicos presos e pagando com aplicação da lei.
“Não tenho nada contra, mas...”
Entende-se homofobia como a aversão a pessoas homossexuais. Ela não se manifesta apenas em agressões físicas ou homicídios, mas também em posturas e ataques cotidianos.
A atitude homofóbica, em geral, vem acompanhada pela frase “não tenho nada contra, mas...”. Geralmente, há um discurso de forte apelo moral, acompanhado de frases como “bissexuais não sabem o que querem” e “homossexuais são promíscuos” ou a queridinha pelos homofóbicos velados que “têm até um amigo gay”: “tudo bem ser gay, só não gosto que fiquem se beijando na minha frente.”
Um grupo de pesquisadores italianos, liderados pelo endocrinologista e sexólogo Emmanuele Jannini, da Universidade de Roma Tor Vergata, investigou fatores psicológicos relacionados a pessoas homofóbicas.
Em resumo, o resultado das pesquisas mostrou que o homofóbico apresenta maior insegurança, é mais imaturo em relacionamentos e tem traços de personalidade marcados pela hostilidade, raiva, agressividade, sensibilidade à repugnância, hipermasculinidade e misoginia.
O pesquisador que lidera os estudos ainda define a homofobia como “doença induzida pela cultura” e isso se explica pela forma como a sociedade impõe a maneira como devem ser os relacionamentos.
Homofobia digital
As redes sociais como palco de comentários homofóbicos e preconceituosos
Dizendo “sim” à intolerância
No começo de novembro, um blog de casamento foi alvo de comentários de um internauta homofóbico. A plataforma Noiva Ansiosa, que fala sobre a vida a dois e acima de tudo sobre o amor, realizou um projeto chamado Amor Igual, em que um casal homoafetivo que sonhava em se casar foi escolhido para ganhar a cerimônia.
Na divulgação do casamento, o blog postou em sua página do Facebook fotos do casal em um ensaio Pré-Wedding, onde um internauta registrou um comentário homofóbico, preconceituoso e cruel.
Ataque homofóbico. Reprodução/Facebook "Noiva Ansiosa"
O amor que eles não aceitam que existe
Marcela e Bel, que namoram há quase um ano, também sofreram um ataque homofóbico em uma de suas fotos juntas no Instagram.
Em agosto, Bel postou em sua conta uma foto em que se declarava para Marcela em uma data especial para as duas. Um internauta deixou um comentário em inglês em que dizia: “se casar com homem é melhor que se casar com mulher”.
Comentário homofóbico do internauta na fotografia de Marcela e Bel. Foto: Reprodução/Instagram
As histórias acima são apenas dois exemplos de milhões de casos em que a homofobia tenta incansavelmente anular a igualdade de direitos dos homossexuais, ao propor que os casais gays e lésbicos não andem abraçados, não se beijem em público ou mesmo que não se casem.
Muitos acreditam que o erro da frase “não tenho nada contra, mas...”, está no “mas”. A afirmação toda é infeliz, não existem motivos para ter algo contra uma pessoa, levando em conta apenas sua orientação sexual.
Esse é justamente o ponto crucial da homofobia, quando se ignora tudo o que uma pessoa é para focar apenas na sua orientação sexual e odiá-la ou atacá-la por isso.
Tenha tudo contra a homofobia e nada contra o amor. Lute por direitos e igualdade, não deixe que situações homofóbicas passem por você caladas, porque a homofobia mata e o silêncio também.