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O ativismo socioambiental de Chico Mendes

Gabriel Caldeira

Acreano que se destacou na militância em prol dos recursos florestais do Brasil é tido como herói por aqueles que seguem seus ideais

 

Em dezembro de 2018, fez-se 30 anos do assassinato de Chico Mendes, seringueiro, sindicalista e ativista socioambiental, conhecido por sua luta a favor da preservação da floresta amazônica e da proteção dos povos que vivem ao seu redor. Chico foi precursor quanto às bases do que ficou posteriormente conhecido como “desenvolvimento sustentável” a partir da conservação da biodiversidade, e suas ideias ganharam repercussão internacional quando foi premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o Global 500.


Nascido em Xapuri, cidade do interior acreano conhecida pela extração do látex, Chico era um seringueiro como a maior parte dos trabalhadores que habitavam a região. Teve seu primeiro contato com a política através de Euclides Távora, militante que participou do Levante Comunista em 1935 e da Revolução da Bolívia de 1952, e vivia espécie de exílio na Amazônia. Educado politicamente, o seringueiro foi aos poucos notando as injustiças que a população local sofria, e passou a queixar-se das condições de trabalho impostas à população por, segundo Chico, grandes proprietários da região.


Fotografia do arquivo pessoal da família de Chico Mendes o mostra trabalhando no corte da seringueira, árvore da qual se extrai o látex. Foto: Reprodução/G1

Afirmando sua posição como influência política local, iniciou sua vida sindical em 1975, quando se tornou secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da Brasiléia (AC). Lá, passou a organizar manifestações pacíficas conhecidas como “empate”, em que os trabalhadores da região davam as mãos e formavam barreiras em frente a locais que seriam desmatados, numa forma improvisada de impedir o desmatamento.


Dois anos depois, Chico Mendes atingiu ponto importante em sua luta e carreira política, ao fundar um sindicato para os trabalhadores de Xapuri e eleger-se vereador pela cidade. Antes de Chico iniciar sua carreira formal na política e no sindicato, a pauta ambiental era completamente rejeitada em favor do “desenvolvimento” do país. Para melhor ilustrar, apenas em 1977, quando foi eleito, começou-se a coletar dados sobre o desmatamento da Amazônia. Nesse ano, 144 mil km de floresta haviam sido derrubados.


Atraindo atenções do governo militar e dos fazendeiros que desejavam usar as terras amazônicas para a pecuária, Chico foi preso e torturado pelo regime militar em 1979, sob a acusação de subversão. Mas é a partir da década de 1980 que intensifica sua luta pelas florestas e populações amazônicas e, por fim, ganha notoriedade internacional, com a realização do 1º Encontro Nacional de Seringueiros, que advogaria a favor da demarcação de Reservas Extrativistas (Resex). A primeira reserva, “Alto Jaruá”, foi demarcada em 1990.


Mas apesar de estar ligado, principalmente, aos trabalhadores rurais, Chico Mendes foi uma figura importante na união de todos os populações daquela região, como indígenas, ribeirinhos, quilombolas e os próprios seringueiros. Em entrevista ao Nexo Jornal, a indígena da tribo Munduruku, Alessandra Korap, relata: “As pessoas que conheço e que conheceram Chico Mendes sempre me contavam a história de que ele era um grande defensor da floresta, mesmo não sendo indígena como a gente. [...] Foi isso que Chico Mendes deixou, esse sentimento de união.”


Além da preservação da floresta e dos direitos dos trabalhadores rurais, Chico teve grande influência para a educação de base da região. Ele entendia que o processo de educar-se, ainda que informalmente, foi o que possibilitou sua formação política e toda sua trajetória como ativista. Criou em 1981 o Projeto Seringueiro, acompanhado de uma cartilha denominada “Poronga”, em referência ao instrumento utilizado pelos seringueiros para enxergar no escuro enquanto extrai o látex das árvores. Na cartilha, eram descritos os métodos de alfabetização e aprendizado voltados àquela população, com foco nos temas identitários e linguajar local. A primeira escola do Projeto, que veio a se tornar obrigatório no Acre em 1990, foi inaugurada no seringal Nazaré, atual Reserva Extrativista Chico Mendes.


Local onde Chico Mendes foi assassinado transformou-se em fundação que busca manter sua memória viva. Foto: Reprodução/IstoÉ


Um ano antes de sua morte, em 1987, alcançou seu momento de maior notoriedade quando discursou na ONU após ser premiado por denunciar empréstimos solicitados pelo estado brasileiro ao Banco Interamericano de Desenvolvimento, que estavam sendo usados para financiar grandes fazendeiros e grileiros. Por fim, os empréstimos foram suspensos.


A biografia de Chico Mendes tem um trágico fim no dia 22 de dezembro de 1988, quando foi assassinado nos fundos de sua casa por uma emboscada armada, a mando dos irmãos fazendeiros Darly e Alvarino Alves, que, segundo Chico em entrevista concedida treze dias antes para o Jornal do Brasil, estavam o ameaçando. Também afirmou que os irmãos eram amigos do então delegado da Polícia Federal no Acre, Mauro Spósito. O jornal, porém, decidiu não publicar imediatamente a entrevista, o que fez só após a morte de Chico Mendes.


Por que preservar o legado de Chico Mendes?


No último dia 11, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, quando perguntado sobre a figura de Chico Mendes, desdenhou de sua importância, questionando: “Que diferença faz quem é Chico Mendes nesse momento?”. A resposta, porém, é muito simples: sua memória deve ser resgatada pois o Brasil não foi capaz de frear a exploração desmedida da Amazônia e a violência dos agropecuaristas que tentam se inserir na região..


Mesmo com os avanços alcançados na demarcação de reservas e outras Unidades de Conservação (atualmente, são 93 RESEXs), o desmatamento da floresta amazônica ainda é um problema de primeira urgência para o Brasil, considerando as estatísticas recentes. Além disso, o Brasil é o país mais letal para trabalhadores e ativistas que lutam pela causa socioambiental. Só em 2017, 57 militantes foram assassinados, quase todos com destino similar ao de Chico Mendes, vítimas de grandes proprietários do agronegócio.

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