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Vinícius Barboza

A atual relevância de “Infiltrado na Klan”

Filme que aborda a atuação da KKK dos anos 1970 concorre ao Oscar de Melhor Filme em momento de evidência do grupo racista

 

Faltam poucas horas para conhecermos os ganhadores do Oscar 2019. Um dos destaques deste ano é “Infiltrado na Klan”, que concorre ao prêmio de Melhor Filme. O longa, um misto de comédia e cinebiografia policial, retrata o ódio propagado pela Ku Klux Klan durante os anos 70, organização, criada nos Estados Unidos em 1865, que defende a supremacia branca e milita contra negros, judeus e outras minorias sociais.


“Infiltrado na Klan” conta a história real de Ron Stallworth, policial que decidiu entrar para a corporação da cidade de Colorado Springs, no fim dos anos 1970. Primeiro e único negro da corporação, o oficial se alçou a trabalhar como detetive infiltrado e, após observar um anúncio da Ku Klux Klan no jornal local, passou a investigar a organização.


O filme é baseado no livro “Black Klansman: Race, Hate, and the Undercover Investigation of a Lifetime”, escrito pelo policial Ron Stallworth e publicado em 2014. Foto: Reprodução/Nos Bastidores


Para se infiltrar nas entranhas da seita e conquistar a simpatia de seus membros, Stallworth contatava os supremacistas por telefone e cartas, ao mesmo tempo que enviava um policial branco em seu lugar para as reuniões do grupo. O detetive conseguiu chegar a ser líder da seita e sabotar crimes de ódio contra negros.


A obra, dirigida por Spike Lee e produzida por Jordan Peele (mesmo diretor de “Corra!”, ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Original em 2018), concorre em seis categorias da maior premiação do cinema. Com seu tom crítico quanto ao racismo estrutural, o filme se mostra relevante em um período em que o preconceito e os debates sobre eugenia voltam a ecoar nos Estados Unidos.


Charlottesville e pesquisas genéticas


As famosas marchas da Ku Klux Klan em Charlottesville colocaram o nome da pequena cidade do estado da Virgínia no mapa. Os acontecimentos de 2017 não foram esquecidos por Spike Lee, que expõe ao final do filme imagens de membros da seita propagando ódio contra negros, além do protagonismo recente obtido pela KKK. Em agosto do ano passado, outra manifestação de supremacistas brancos foi convocada em Washington, mas dessa vez com efeitos menores. O ato do grupo “Unir a Direita”, que esperava receber 400 pessoas e marchar em direção à Casa Branca, acabou recebendo uma baixa adesão de apenas 30 pessoas.


Como se os atos públicos em defesa da supremacia branca não bastassem, a ideia central por trás de toda essa discriminação conquistou adeptos recentemente: pesquisas genéticas têm sido distorcidas no intuito de legitimar o racismo. Em fóruns de extrema direita na internet e publicações em redes sociais, supremacistas brancos utilizaram artigos científicos que estudam traços comportamentais e aspectos evolutivos para justificar uma possível superioridade da raça branca.


Vídeo da internet mostra supremacistas brancos bebendo leite. Foto: Reprodução/Folha de S.Paulo


Um dos estudos demonstrava em pessoas brancas uma maior presença de um gene que permite a digestão da lactose na vida adulta. Segundo a pesquisa, embora o gene seja desativado após a infância, com a chegada dos primeiros pastores de gado à Europa, há cerca de 5 mil anos, uma mutação teria dado tal vantagem ao grupo. Como resposta à divulgação distorcida da pesquisa, é possível encontrar vídeos na internet que mostram nacionalistas brancos bebendo leite. Uma postagem em uma rede social dizia: “Se você não pode beber leite, você tem que retornar [para a África]”.


“É tempo de o KKK voltar a atacar à noite”


Em 14 de fevereiro, Goodloe Sutton, diretor do jornal The Democrat-Reporter, pediu a volta da Ku Klux Klan. Em editorial publicado no veículo do estado do Alabama, Sutton fez um apelo para que a organização se voltasse contra o que chamou de “socialistas-comunistas”. “É tempo de o KKK voltar a atacar à noite. (...) Se pudéssemos fazer com que o Klan subisse até lá e limpasse [Washington] D.C., ficaríamos melhor.”


Os debates acerca da eugenia, a utilização indevida de pesquisas científicas e o protagonismo recente conquistado pela KKK aumentam os holofotes sobre “Infiltrado na Klan”. A conjuntura atual traz uma maior importância à obra de Spike Lee, por jogar luz à maior organização supremacista branca dos EUA e criticar os ideais que a norteiam há mais de 150 anos.

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