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Ela não está louca

Juliana Bittencourt

“She’s Gotta Have It” traz para a Netflix representatividade e quebra de estereótipos

 

A série “She’s Gotta Have It” (Ela Quer Tudo) foi lançada na Netflix em 23 de novembro de 2017. Sua história tem como protagonista Nola Darling, uma mulher negra e pansexual adepta do poliamor.


A obra de Spike Lee é uma adaptação do filme de mesmo nome e mesmo diretor. Ela apresenta questões da realidade americana, além de contar com uma trilha sonora composta por artistas negros. As referências a filmes são marcantes na série assim como situações de racismo, machismo e xenofobia.

Nós do InCultura listamos cinco dos pontos altos da série para você.


- CONTÉM SPOILERS -

1. Nola Darling

Com uma imensa representatividade, “She’s Gotta Have It” traz uma protagonista que foge dos estereótipos raciais normalmente apresentados em grandes mídias. Nola é uma mulher decidida, possui opiniões fortes e evolui ao longo dos episódios. Ainda que a personagem principal seja negra, a questão racial não é o foco da série. Situações de cunho racistas e machistas são apresentadas como vivências e debates, que passam pela vida de Nola como passariam pela trajetória de qualquer mulher negra.


Personagem Nola. Foto: David Lee, da Netflix, via Vulture


Em determinado momento da história, Nola começa a fazer tratamento terapêutico com uma psicóloga também negra. O acontecimento é significativo pois a população preta é sujeitada a inúmeras situações violentas cotidianamente, mas está afastada de atendimentos psicológicos. Nola, apesar de apresentar problemas financeiros, continua a terapia e através dela tanto ela quanto o público começam a notar as fragilidades da personagem.


Outro ponto importante apresentado foi sua sexualidade. Darling é uma mulher abertamente pansexual, relaciona-se com homens e mulheres no decorrer da temporada. Portanto, traz mais representatividade para a série, pois mesmo com os avanços ganhos pela comunidade LGBT em produções, os personagens criados são quase sempre brancos, deixando de representar grande parte da população.


2. Críticas ao governo e à sociedade americana


Vivida no Brooklyn, a série traz fortes discursos contra situações de preconceito e pobreza dos Estados Unidos. Uma das cenas marcantes é a crítica feita ao presidente Donald Trump. Tendo como trilha sonora a música “Klown Wit Da Nuclear Code”, a cena mostra as reações dos personagens com a vitória de Trump ao mesmo tempo que exibe manchetes de jornais com falas preconceituosas do político. Um ponto alto desse momento é Papo, um morador de rua negro e latino, gritando que aquele não era seu presidente e que não seria expulso de seu país.


Além dessa crítica, a série retrata momentos de tensão com a polícia e contra a gentrificação, situação em que um bairro começa a ser valorizado e acaba prejudicando a população mais pobre local. Outra denúncia breve é sobre a incoerência do discurso do “racismo reverso”.


3. Assédio sexual e estupro


O assédio sofrido por Nola é um dos temas mais recorrentes da série e é lembrado com respeito e empatia. No intuito de salientar o quanto essa violência pode afetar e prejudicar a vida de uma mulher, a situação vivenciada por Nola a faz reagir de diversas formas. A personagem cria campanhas ao recorrer a sua arte como forma pessoal de fuga, mas ao mesmo tempo fica mais apreensiva com os homens ao seu redor e inicia o tratamento psicológico.


A campanha artística contra o estupro criada por Nola na série inspirou uma ação na vida real com engajamento de mulheres de todo mundo, que pode ser conferida aqui. Foto: Reprodução/Tunnel VSN


A temática do estupro é apresentada de forma rápida, mas marcante. Apesar de não ocorrer com nenhum dos personagens de destaque, a história consegue trazer críticas que vão muito além da violência sexual como pobreza, prostituição, traumas e drogas. A descoberta da violência sofrida modifica não só a forma do público de olhar determinados personagens como da própria Nola.


4. Relacionamentos


Apresentada como uma personagem adepta do poliamor, os relacionamentos de Nola são o ponto central da série e cada um mostra uma faceta da protagonista. É interessante notar que os três homens que possuem um papel romântico, sexual e afetivo na vida da personalidade são retratados da mesma forma como personagens femininas são.


Jamie, Greer e Mars vivem para Nola Darling, seus discursos e problemas giram em torno dela bem como suas vontades e sonhos. Apesar de diferentes entre si, todos dão pra Nola a sensação de que querem a controlar, algo que é criticado na série a todo momento e combatido por ela com força, com o intuito de manter sua liberdade.


A única mulher com quem Nola se relaciona é Opal Gilstrap. Esse romance mostra ao público não só diversos defeitos da protagonista, como apresenta uma profundidade e um lado dela ainda não visto. Ao contrário dos homens, Opal já havia tido um namoro com Darling e volta a se relacionar com ela depois de alguns anos. Isso faz com que Gilstrap encare os defeitos e ações de Nola com um olhar diferente, mais crítico e sensato.


Personagens Nola e Opal. Foto: Reprodução/The Glow Up


Além disso, ela é mãe de uma garota, o que significa que possui uma responsabilidade maior. O interessante é notar que Opal assim como Jamie possui uma família que pode ser prejudicada pelo envolvimento com Nola, entretanto o posicionamento deles é diferente.


5. Shemekka Epps


Merecedora de um tópico individual, Shemekka é uma das melhores amigas de Nola, ambas se apoiam, ajudam-se e brigam no decorrer da série. Porém, Epps traz críticas que a personagem principal não poderia. Enquanto a protagonista é uma mulher negra vivendo o ápice de seus relacionamentos, pode se preocupar apenas com si mesma, tem um trabalho definido e um amor próprio muito bem desenvolvido, a sua amiga é o oposto. Epps é mãe solo, trabalha em uma boate e decide modificar o próprio corpo para ganhar dinheiro, mas esconde essa decisão de todas suas amigas e família.


Shemekka ao lado de sua filha. Foto: Reprodução/Gulf News

 

Apesar da pouca divulgação, o diretor e produtor Spike Lee revelou por meio de seu Instagram a renovação da série para uma segunda temporada. A continuação da história ainda não tem data de lançamento.

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