Beleza negra e autoaceitação
Das telas de cinema para as lutas sociais
Lupita Nyong'o, atriz e produtora queniano-mexicana, que já tem seu rosto conhecido por muitos, tem desempenhado um papel forte de visibilidade negra. Ficou mundialmente conhecida após interpretar Patsey, em 2013, no filme “12 Anos de Escravidão”, e ser premiada com um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, sendo a primeira africana a ganhar a premiação. E agora, em 2018, trouxe força e empoderamento às mulheres, principalmente negras, com “Nakia”, espiã de Wakanda no filme “Pantera Negra”.
Ela começou sua carreira no cinema fazendo parte de equipes de produção de filmes, como “The Constant Gardener”, “The Namesake” e “Salvatore Stabile”, momento que migrou para a atuação. Em 2009, produziu e dirigiu o documentário que escreveu, “In My Genes”, sobre o preconceito que a população albina sofre no Quênia. No mesmo ano também dirigiu o vídeo musical “The Little Things You Do”. Foi capa da Vogue em 2014, sendo a segunda mulher africana e a nona negra a aparecer na revista. Estrelou na Broadway com papel principal na peça “Eclipsed”, primeira produção teatral a ter elenco e equipe majoritariamente preta feminina.
Nyong’o faz parte de algumas causas, como a da organização internacional de conservação ao meio ambiente, WildAid, que a nomeou embaixadora de Elefantes Globais. A atriz também está inclusa na organização Mother Health International, que fornecem alívio para mulheres e crianças em áreas de guerra, desastres e extrema pobreza, com intenção de diminuir a taxa de mortalidade materna e infantil.
A espiã de Wakanda que conquistou muita admiração. Foto: Reprodução/Legião dos Heróis
Lupita antes da fama foi uma das vítimas de assédio do produtor Harvey Weinstein, em texto publicado pelo “The New York Times” ela comentou: “minha estratégia de sobrevivência era evitar Harvey e homens assim a todo custo, e eu não sabia que eu tinha aliados nisso”. A atriz também escreveu sobre o compromisso de somente trabalhar com direções femininas ou diretores homens feministas, que não abusem de “poder” dentro do cinema.
“Pantera Negra”, apesar de ser um filme fictício baseado em histórias em quadrinhos, carrega uma carga social muito grande, trazendo discussões de gênero e raça. Quando entrevistada pelo site australiano “PopSugar”, falou a respeito das mulheres dentro da produção: “o filme mostra mulheres ao lado de homens e cada um é poderoso à sua maneira, mas o poder delas não diminui de qualquer forma a força dos homens nas vidas delas”, referindo-se às personagens femininas fortes e destemidas, que desmistificam o estereótipo da típica “donzela indefesa”.
O longa-metragem tem contexto histórico que faz referência ao movimento Black Panther. Lupita, em entrevista ao “The Hollywood Reporter”, abordou a questão: “nós estamos criando um mundo de inspirações onde as pessoas africanas realmente estão no comando de seus próprios destinos. E isso realmente me motivou e deixou a pequena menininha dentro de mim pulando de alegria. Só de ter pessoas africanas, pessoas negras, no centro da narrativa, já é muito animador”.
Lupita engajada e vestida para a luta Black Panther. Foto: Reprodução/Instagram
Nyong’o compreende o tamanho da discriminação que ela e outras mulheres passam, e procura evidenciar esses paradigmas, já discursou sobre a beleza da mulher negra e as inseguranças que possuía na adolescência. Durante uma entrevista concedida à revista “Veja”, comentou: “é um presente estar numa posição, como atriz, de ajudar garotas que sentem que ninguém as vê nem as escuta, e que não se acham bonitas, se sentirem melhor sobre si mesmas. Sinto um privilégio ser para as garotas essa pessoa que eu não tive quando era pequena”. Em seu livro infantil, que será lançado em 2019, é abordado o tema da autoaceitação para incentivar meninas, uma produção da artista para combater preconceitos e tornar sua luta visível.
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