top of page

A “dona da festa” chegou

Vinícius Barboza

O empoderamento na música de Gloria Groove

 

Uma voz potente. Mais de uma década e meia de muito suor e arte de alguém que se divide em inúmeras ocupações, usa metrô e ônibus para se locomover até seus trabalhos e leva representatividade à população drag brasileira, negra e LGBT+.


Dotada de versatilidade, os talentos de Gloria Groove permitiram a ela obter notoriedade e construir sua carreira artística. Um dos espelhos do atual cenário de cantoras drag, ela também é atriz, dubladora e compositora, e em suas letras flui um discurso que empodera minorias e combate a intolerância.

Gloria Groove no clipe de “Bumbum de Ouro”, que alcançou 1 milhão de visualizações no YouTube apenas dois dias após seu lançamento. Foto: Reprodução/Instagram ”Gloria Groove”

Nascida Daniel Garcia e natural da Vila Formosa, zona leste de São Paulo/SP, foi criada por mulheres em uma família não tradicional e musical. Desde a mais tenra idade viveu cercada de referências do hip-hop, soul music e R&B, além de ter como referência sua própria mãe, que era backing vocal da banda Raça Negra. Talvez de modo hereditário, então, o dom da música e da voz foi transmitido a ela.


Começou a cantar aos sete anos, quando compôs a nova geração do Balão Mágico. Aos nove, integrou-se a um projeto gospel, e com a mesma idade, passou a dublar filmes e animações. Ainda na infância, participou do quadro “Jovens Talentos”, do Programa Raul Gil, na TV Bandeirantes.


Durante a pré-adolescência, interpretou Ruizinho, em “Bicho do Mato”, novela exibida originalmente entre 2006 e 2007 pela TV Record. Aos 14, conheceu o teatro musical e deu vida a uma travesti em uma remontagem do musical “Hair”, da Broadway. Naquele momento começava a surgir a drag preta “Gloria Groove”.


“Uma vez que você está em paz com o fato de que você é uma ‘bichona’ [...] preta, sim, não tem como ninguém mais te atingir por conta desses fatores.” ― Gloria Groove em entrevista à Revista Trip.

O papel representativo de Gloria Groove se desenha a cada música que a artista lança, ou mesmo em cada peça ou acessório de seu vestuário arrojado, sensual e futurista. “Representatividade é muito importante. Você não tem noção da diferença que faz para um menino negro, gay, de periferia, poder olhar para o meu trabalho e pensar: ‘Poderia ser eu’”, diz ela em entrevista concedida à Revista Trip.


As canções de seu repertório são tão diversificadas quanto suas influências, e a maioria cumpre função política. “Madrugada” e “Muleke Brasileiro”, que compõem o disco “O Proceder”, falam de paixão, lutam contra a sexualização das drags e ressaltam uma vez mais que as pertencentes desse grupo social merecem ser amadas como quaisquer pessoas.


Gloria montada com o figurino de “Gloriosa”. Foto por Rodolfo Magalhães, via Instagram ”Gloria Groove”

“Dona” e “Império” são exemplos de músicas empoderadoras. A primeira, single que deu destaque à carreira de Gloria, ainda em 2016, exalta a cultura drag. A segunda cita dificuldades das queens, inspirando-as no combate ao preconceito. Ao ser entrevistada pela Revista Época, ela mencionou que sua luta contra o ódio voltado à comunidade LGBT+ está apenas começando. “É uma ilusão achar que a luta está ganha porque a gente tem algum tipo de repercussão agora. [...] Eu costumo me lembrar sempre disso: não é só música por fazer música.”


Durante o programa Conexão Repórter, do SBT, a cantora relata o que a motiva a se montar. “Ser drag queen é desafiador, [...] instiga as pessoas, não se importa com padrões e expectativas de gênero, que são as coisas que nos machucam quando estamos crescendo.”

“Aquilo que não mata fortalece um gay Sente o quanto te empodera ter nascido gay Em teus olhos um espelho onde eu me enxerguei É que eu também sou gay.” ― trecho de “Gay (interlúdio)”.

Gloria Groove eleva a autoestima da população drag, e vai contra os discursos de ódio, que cada vez mais matam os integrantes do grupo LGBT+. Os clipes musicais protagonizados por elencos predominantemente negros ressaltam a representatividade drag preta. Seu trabalho é marcado por um misto de arte, talento e militância, envoltos em um discurso que clama por respeito à diversidade.


 Siga o INCULTURA: 
  • Curta nossa página no Facebook!
  • Siga nosso perfil no Instagram!
  • Siga-nos no Twitter!
 POSTS recentes: 
 procurar por TAGS: 
bottom of page