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O que há por trás de “This Is America”

Vinícius Barboza

O clipe musical que traz inúmeras referências e críticas ao racismo

 

Há quem diga que boa parte das produções musicais lançadas recentemente não carregam em seu conteúdo críticas à sociedade em que vivemos ou às mazelas sofridas pela humanidade. O videoclipe da música “This Is America”, do músico Childish Gambino (também conhecido por Donald Glover em sua carreira de ator, roteirista e humorista), vai de encontro com esse padrão e desfere duros golpes contra a realidade racista vigente hoje nos Estados Unidos.

Lançado no último 5 de maio, o vídeo conta com mais de 120 milhões de visualizações, sendo que, no seu primeiro dia no ar, fora visto por 10 milhões de pessoas. O sucesso explosivo e a ampla reverberação do clipe nas mídias sociais relacionam-se com a temática que aborda e a quantidade de referências que traz, incluindo menções a dois casos reais que exemplificam o racismo sofrido pelos cidadãos negros estadunidenses.


Produtos como camisetas, capas para celular e canecas já estão sendo comercializados com a estampa em referência à obra de Childish Gambino. Foto: Reprodução/TeePublic

A letra da canção possui variadas críticas explícitas, seja à sociedade dos EUA ou aos rappers norte-americanos. Um exemplo de destaque se encontra em um trecho do refrão: “This is America / Don’t catch you slippin’ up” (“Esta é a América / Não seja pego escorregando”, em tradução livre). Os versos apontam os holofotes ao fato de que ser negro em uma sociedade racista como a estadunidense não permite que “escorregões” sejam cometidos, o que obriga a população preta a ficar sempre em alerta.

Isto porque negros e negras devem se atentar ao trivial hábito de usar um smartphone, e tomar o devido cuidado para que o objeto não seja confundido com uma arma. Em março deste ano, Stephon Clark foi morto com 20 tiros, após policiais presumirem que o jovem estava armado. Ao lado de seu cadáver fora encontrado apenas um aparelho celular. O caso é uma das referências feitas no clipe de “This Is America”.



O momento mais chocante do clipe se dá quando Gambino dispara contra um coral religioso composto por cantores negros, fazendo referência ao que ficou conhecido como “Massacre de Charleston”, ocorrido em 2015. Na ocasião, um supremacista branco ceifou a vida de nove pessoas em uma histórica igreja afro-americana, por motivações racistas. O criminoso fora condenado à morte dois anos depois.


“This Is America” também realiza críticas à política armamentista estadunidense, e à maior valorização das armas em detrimento das vidas negras que são perdidas. A fotografia do clipe enfatiza a música e a dança em primeiro plano, sem dar foco à confusão e barbárie que acontece ao fundo da tela. Dessa forma, questiona a espetacularização em torno da cultura negra, enquanto essa serve de distração para os reais problemas da comunidade afro-americana, como a marginalização, a violência sofrida e o racismo estrutural.


Frame do início do videoclipe, em que Gambino faz uma referência a Tio Ruckus, da série The Boondocks, um personagem negro que reproduz comportamentos racistas. Foto: Reprodução/Notícias ao Minuto

Nos 4 minutos e 4 segundos de sua produção audiovisual, Childish Gambino demonstra uma forma de se fazer arte no seu significado mais genuíno, com críticas a problemas sociais ligados à cor da pele na sociedade e a proposição de reflexões. A construção do clipe, a forma como explicita a realidade e seus detalhes, como o figurino de Gambino, ainda que aparentemente básico ― com uma calça utilizada pelo exército dos Estados Confederados, defensores do sistema escravocrata na Guerra Civil estadunidense ―, provocam e captam a atenção do espectador e dos internautas.

Embora “This Is America” teça questionamentos e use como pano de fundo a realidade estadunidense, vivemos em um contexto hostil às minorias sociais, que abrange não somente o país norte-americano. No Brasil, são cometidas violências diárias que têm como alvo a população negra. Movimentos políticos reacionários crescem em países desenvolvidos da Europa. Grupos supremacistas brancos ganham força nos EUA e expõem seus ideais preconceituosos, como nas passeatas ocorridas em Charlottesville, Virginia. Esses fatos mostram que, no momento em que é lançada, a obra de Gambino se torna fundamental.


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