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O racismo implícito nas novelas brasileiras

Maria Luísa Cappelli

Em um país com a população preta predominante apenas 10% do elenco das novelas é negro

 

Telenovelas fazem parte do cotidiano nacional, tendo impacto sobre os comportamentos sociais e atuando como agente de transformação na vida dos brasileiros.


Segundo a pesquisa “A Raça e o Gênero nas Novelas dos Últimos 20 Anos” realizada pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA), as novelas de principal impacto na população são as de maior difusão, como as exibidas pela Rede Globo. Uma das constantes críticas a suas novelas diz respeito ao racismo implícito ao colocar atores negros apenas para representar empregados, escravos, malandros ou as "mulatas sensuais". Mais da metade da população brasileira é negra, e a média de personagens pretos e “pardos” nas novelas é de apenas 10%, e protagonistas não-brancos é de 1%. É um paradoxo constante a TV falar diretamente com a população, mas não a representar de fato.


A Raça e o Gênero nas Novelas dos Últimos 20 Anos. Gráfico: Reprodução/GEMAA


Muitos acreditam que a representação de negros nas novelas está crescendo, porém isso é uma triste ilusão. Negros não são personagens principais, estão sempre submissos a situações comandadas por brancos e dentro de estereótipos. O preto malandro, que passa as mulheres para trás, não gosta de trabalhar e tem o famoso "jeitinho brasileiro". A empregada simpática e engraçada, a amada "Tia Nastácia", que a família ama, mas a deixa sempre em pé ao lado da mesa na hora das refeições. As mulheres pretas, sobretudo as negras de pele clara, chamadas vulgarmente de “mulatas”, também são constantemente sexualizadas, conhecidas por “enlouquecer todos os homens”, porém não são as "para casar".


As atrizes Zezé Motta e Taís Araújo, que interpretavam mãe e filha na novela Xica da Silva (TV Manchete - 1996), a primeira novela brasileira cujo protagonista era negro. Foto: Reprodução/Acervo TV Manchete

A novela atual das nove, "A Força do Querer" mostra que até mesmo nos papéis do estereótipo de "preto favelado", o branco entra em cena. A trama tem como cenário o Morro do Beco, mostrando o esquema de tráfico. Todos os atores que representam traficantes e bandidos são negros, no entanto, o protagonista dono do morro é branco. Ou então a edição passada de "Malhação", em que a protagonista era preta e faxineira. Uma grande oportunidade de usar uma novela jovem de grande alcance para mostrar a adolescentes negras que elas podem ser tudo que quiserem, é afogada em estereótipos racistas.


Personagem Rubinho à esquerda, dono do Morro do Beco, na novela "A Força do Querer" (2017). Foto: Reprodução/Arquivo G1


Representatividade vai além de colocar meia dúzia de personagens pretos desfalcados pela trama. Não usufruir das novelas, uma das maiores ferramentas que influencia a formação de opinião do brasileiro, para gerar inclusão e visibilidade é preconceito, sim! Dessa forma os brasileiros têm mais dificuldade de aceitar que somos uma sociedade preta e assustadoramente racista.



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