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Estefani Panaino

Jarid Arraes como exemplo de força, resistência e negritude

Autora de “Heroínas Negras Brasileiras” conta ao InCultura sua trajetória até o universo da literatura

 

Para começar a escrever histórias e cordéis Jarid Arraes precisou ir além de enfrentar o papel e caneta. A autora cearense teve que se descobrir e passar por um processo de autoidentificação como mulher negra. As temáticas de seus textos são voltadas às pretas inspiradoras, brasileiras ou africanas, e ajudam mulheres como você a se sentirem fortes e incluídas na sociedade.


À Jarid faltaram referências no universo cultural, resultando na complicação que muitos pretos passam: a compreensão tardia de sua ancestralidade. “Entre minhas leituras e na mídia, eu nunca tive acesso a trabalhos de mulheres negras, muito menos escritoras. Na verdade, esse processo aconteceu num misto de busca solitária, pesquisando sobre Feminismo, especialmente o Feminismo Negro, e a ajuda de minha amiga Karla, fundadora do grupo Pretas Simoa”.


“A literatura é capaz de provocar identificação. Sempre penso nisso quando escrevo, a forma que estou dialogando com as pessoas, o modo que elas vão se enxergar ali e o que pode surgir de bonito, de curativo e transformador a partir dessa troca.”


Apesar de ser um trabalho que depende de um acesso difícil, pouco estimulado e árduo, foi ele que deu à autora o desencadeamento para suas histórias e divulgação das obras. “A partir daí comecei a resgatar essas referências negras, comprar livros que discutiam essas questões, e isso tudo foi fundamental para que eu me sentisse capaz de compartilhar as coisas que eu já escrevia”.


Jarid Arraes. Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Mas esse só foi o primeiro passo, conseguir uma editora e se manter no mercado dos livros não é simples para uma escritora negra. Às vezes a dificuldade pode ser desanimadora: “é doloroso e revoltante perceber que você não tem acesso às mesmas oportunidades que um grupo de pessoas só porque você não é branca”.


Produzir cordéis também é um desafio, além de não ser bem aceito no mercado editorial, poucas pessoas conhecem a sua riqueza e qualidade. A autora teve contato com esse gênero por conta da família. Em uma entrevista à CartaCapital, Jarid fala sobre seu gosto e influência por essa forma de literatura. “Por isso faço tanta questão de preservá-lo, porque ele é, sim, um símbolo da resistência literária nordestina. Tenho alcançado novas gerações e novos públicos com os meus cordéis e isso me enche de orgulho”, conta a autora para o InCultura.


Foto: Reprodução/Acervo pessoal


Por outro lado, Jarid se sente mais animada e determinada a construir novos projetos ao lembrar de seus objetivos e do impacto de suas obras na vida das pessoas, principalmente das mulheres e meninas negras. “A maior profundidade da literatura é essa capacidade de provocar identificação em quem lê. Sempre penso nisso quando escrevo, a forma que estou dialogando com as pessoas, o modo que elas vão se enxergar ali e o que pode surgir de bonito, de curativo e transformador a partir dessa troca.”


“Estamos o tempo inteiro debatendo sobre o mercado editorial e sobre como o machismo, o racismo e outras formas de discriminação fazem com que as editoras batam a porta na cara de autoras.”


Foi dessa determinação e de toda sua revolta que, em 2015, surgiu o Clube de Escrita Para Mulheres. O projeto é um coletivo de escritoras, elas escrevem juntas, trocam ideias, ouvem as produções e apoiam-se. “Calculo que já passaram pelos encontros mais de quinhentas mulheres, fora as reuniões especiais em instituições e eventos literários. É sempre muito potente e inspirador. Nosso objetivo sempre é apoiar cada uma para que tenha coragem e recursos de se autopublicar, caso não seja publicada por alguma editora. Digo isso porque estamos o tempo inteiro debatendo sobre o mercado editorial e sobre como o machismo, o racismo e outras formas de discriminação fazem com que as editoras batam a porta na cara de autoras.”


A divulgação de seus trabalhos e sua história de vida deve ser estimulada. Hoje Jarid é um dos grandes exemplos de combate ao racismo e machismo dentro das instituições e discursos. Suas realizações inspiraram mais mulheres pretas a lutarem por seus direitos e buscarem sua identidade velada.

 

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