O tráfico que acontece e faz acontecer
Comunidades sustentadas pelo tráfico de drogas e crime organizado
No final da década de 70, surgiam as primeiras facções de tráfico de drogas nos presídios cariocas, dando origem à uma nova categoria de crime organizado. Junto com o consumo de drogas cresceram os lucros que passaram a ser investidos também no tráfico de armas e a consequência dessas séries de crimes foi a declaração da guerra contra o tráfico no Brasil.
O tráfico passou a integrar a organização e economia de favelas, fazendo com que sua população encontrasse nele o meio de se sustentar e isso perdura até os dias atuais. Dados de 2012, divulgados pela Delegacia de Polícia de Magé-RJ, mostram a organização e valores que os envolvidos recebem semanalmente com o tráfico. Os cargos vão de vendedor a gerente de ponto de venda e os salários variam entre R$600 a R$3000 mensais.
Além de razões econômicas, muitos se envolvem com o tráfico por questões de status e o poder que aquela prática o agrega – o desejo de ostentação e reconhecimento agem como a força motriz para que os traficantes se mantenham atrelados a organizações criminosas. Porém, neste caso fica mais evidente o papel da sociedade para a manutenção do tráfico: a exclusão social.
Quando um cidadão é excluído do grupo, ele é levado a se inserir independentemente de qual modo seja, a independência financeira e o reconhecimento de poder é um mecanismo de inserção oferecido pelo crime.
Reprodução/Jovem Sul News
Uma pesquisa feita pelo deputado estadual Carlos Minc, com colaboração de técnicos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e dirigentes de associações comunitárias, relatou que o tráfico gera 9.000 empregos e assume papel de poder público ao criar ações de assistência social em morros. Mesmo aqueles que não se aliciam ao trabalho de traficante são beneficiados com o crime. Os chefes do tráfico distribuem material de construção, pagam contas que famílias não conseguem pagar em farmácias e padarias e até patrocinam times de futebol do morro.
O resultado dessa relação é a visão positiva que os moradores das favelas criam sobre o tráfico, pois ainda que seja algo que cometa infrações à lei, é o que sustenta famílias e o que muitas vezes a instituição pública não faz por aquele grupo social. A ajuda do traficante, mesmo que informal, é pontual e visível pelos moradores, o tornando assim, um referencial de apoio à comunidade.
Traficante do morro. Reprodução/Documentário "Notícias de uma guerra particular"
A antropóloga Alba Zaluar, que atua na área de antropologia da violência, define a relação do tráfico com a favela: "o morador teme o traficante como um tirano, considera-o covarde por andar armado, mas aproveita o que ele lhe oferece".
O tráfico de drogas depende de muitos fatores políticos e sociais para ser enfrentado e um deles é a inclusão social dessa parcela marginalizada da sociedade. Enquanto não houver uma nova perspectiva para as vidas do morro, dificilmente aqueles que se envolvem com o tráfico, irão abandoná-lo.