top of page

A escravidão acabou?

Juliana Bittencourt

Mesmo depois de tanta luta, a população negra ainda sofre as consequências da escravatura

 

Em 1888, após revoltas e resistência, a escravidão brasileira foi abolida. Entretanto, países como Inglaterra, Cuba, Estados Unidos, Argentina e México já tinham revogado a escravatura muitos anos antes. A condição imposta sujeitou as pessoas negras à desumanidade e violência, deixando sequelas visíveis até os dias atuais.


No Brasil, o país com a maior população negra fora do continente africano, a condição das pessoas pretas é de exclusão e o ideal agressivo ainda persiste. Segundo o relatório da CPI do Senado, a cada 23 minutos, um jovem negro é morto e as mulheres negras são as maiores vítimas de homicídio, tendo sua taxa aumentada em 54% entre 2003 e 2013. Apesar de tais dados, o racismo brasileiro ainda é visto como algo pequeno e que não deve ser falado ou discutido abertamente.


Apenas alguns dias depois do “Dia da Consciência Negra”, a atriz e ativista Taís Araújo foi novamente vítima de ataques racistas na internet. Contudo, dessa vez o alvo das piadas foi sua fala no TEDxSãoPaulo, realizado em agosto, onde ela menciona sua preocupação em criar um filho negro em uma sociedade racista. Foram criados memes com a fala da artista, que foi tachada de vitimista, preconceituosa e oportunista.


Essas falas e humilhações vieram tanto de pessoas comuns como de pessoas importantes e famosas, como o presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), Laerte Rimoli, que ironizou as críticas apontadas pela artista. Como forma de protesto, no programa “Sem Censura” da TV Brasil, o ator Pedro Cardoso deixa a entrevista ao vivo em apoio aos grevistas que querem que Laerte saia da presidência e também em apoio a Taís Araújo, afirmando ser impossível continuar em um programa com um presente racista.


Além do caso da atriz, recentemente, no fim do último novembro, houve um caso em que a filha de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank foi vítima de racismo. A menina de 4 anos foi xingada de macaca em um vídeo postado pela socialite Day McCarthy, onde a mulher declara achar um absurdo considerarem Titi, que é negra e com o cabelo crespo, bonita.


É importante notar que as situações vividas por Taís Araújo e Titi, apesar de ruins, apresentam um amparo midiático por se tratarem de duas mulheres negras ricas e famosas enquanto casos naturais do cotidiano brasileiro são silenciados.


Titi com seus pais. Foto: Reprodução/O Globo


Casos como esses não são visíveis apenas no Brasil. Países como Estados Unidos apresentam situações semelhantes. Um exemplo é a filha da cantora Beyoncé, Blue Ivy, que é constantemente alvo de piadas na internet por sua aparência física. Ou também a morte dos dois jovens negros em 2016 por policiais, que se tornou uma das inspirações para a criação do movimento “Black Lives Matter” (“vidas negras importam”) em que a população afro-americana foi à rua protestar contra os assassinatos.


Um outro evento preocupante aconteceu na Líbia em abril de 2017, jovens estavam à venda como escravos por 2.600 reais. O caso foi descoberto por meio de um vídeo gravado em um celular, onde um jovem preto é anunciado como um “rapaz forte para trabalhos agrícolas”. As vítimas disseram à OIM (Organização Internacional para as Migrações) que foram detidas por contrabandistas ou grupos de milícias e então levadas à praças para serem vendidos.


Milhares de pessoas tentam passar pelas fronteiras da Líbia fugindo de conflitos e buscando uma vida melhor na Europa. Entretanto, devido a uma repressão da guarda costeira libanesa, os números de navios africanos diminuíram e com isso os contrabandistas acumulam passageiros. De acordo com a BBC, o preço pelo qual esses imigrantes são vendidos varia de acordo com suas qualificações. Também é dito que mulheres negras são vendidas como escravas sexuais e, assim como os homens, não possuem dinheiro e a família não tem como mandar ajuda ou algum resgate, resultando em uma população presa na fronteira e vítima de crueldades.


Imigrantes na embarcação. Foto: Reprodução/BBC


Assim como tantas outras vítimas de racismo, a situação na Líbia é silenciada pelas mídias e pouco tem se falado ou notificado a respeito. Em um mundo globalizado, a informação é importante e falar sobre um assunto tão preocupante é necessário para alertar sobre a violência sofrida por esses imigrantes.


Apesar de ter acabado anos atrás, a escravidão ainda está presente na realidade atual e os países colonizados sofrem as consequências da invasão europeia e das violências propagadas contra a população negra.

 Siga o INCULTURA: 
  • Curta nossa página no Facebook!
  • Siga nosso perfil no Instagram!
  • Siga-nos no Twitter!
 POSTS recentes: 
 procurar por TAGS: 
bottom of page