Os extremos que cegam
Quando a “comemoração” ultrapassa o limite e permeia uma cultura misógina
É utópico pensar que os problemas do Brasil se restringem a apenas uma pessoa ou entidade. Torna-se necessário prestar atenção cada vez mais aos extremismos que impedem a visão de outros lados de uma mesma história. Contudo, o atual período político no País abriu deixas para posicionamentos radicais.
Na última sexta-feira (06), Oscar Maroni, empresário e dono da boate Bahamas Club, conhecido como “magnata do sexo”, “comemorou” a prisão de Lula. Ele havia prometido que, se o ex-presidente fosse preso, pagaria cerveja para todos, e assim o fez na noite em que o petista se entregou à Polícia Federal.
Além das 9 mil latas de cerveja distribuídas às 3 mil pessoas que compareceram, um altar montado com as fotos do juiz Sérgio Moro e da presidente do STF, Cármen Lúcia, Oscar comandou atos de exposição ao corpo de uma mulher. O empresário, enquanto tapava a boca da moça, segurando-a pela cabeça, tirou a calcinha dela, depois a deitou no chão e começou a fazer gestos sexuais. Além disso, também arrancou a blusa da moça, o que gerou diversos gritos de euforia entre os homens presentes no bar, que fotografaram e filmaram todo o show.
Objetificação feminina. Imagem: Reprodução/Capitolina
É aqui que está o ponto principal. Expor o corpo feminino no pretexto de uma “comemoração”. E esse ato é socialmente aceito, porque foi praticado por alguém considerando detentor do poder: homem, branco e rico; enquanto a moça não teve voz ou significância humana. Afinal, havia 3 mil pessoas, e a maioria delas não demonstrou negação ao gesto desumano e absurdo, apenas reproduziram uma consciência machista gritando e aplaudindo o corpo de uma mulher exposta.
São inúmeras situações que exploram e lucram com o corpo feminino, porque ainda se é presente o discurso da mulher como objeto, cuja função seja a satisfação sexual masculina. E a situação da mulher é tão descartável, que vários veículos de comunicação não reportaram esse caso abusivo, apenas noticiaram a festa de Oscar em “comemoração” à prisão de Lula, como sendo um evento bem sucedido, inclusive, animado por um DJ.
Fachada do Bahamas Club. Foto: Reprodução/Notícias ao Minuto
Cabe ressaltar que Maroni foi condenado em primeira instância em 2011 por favorecimento à prostituição e manutenção de local para tal prática. Mas em 2013 foi inocentado pelo Tribunal de Justiça, tendo como justificativa que ele é um empresário de uma boate, mesmo que essa venha a ser frequentada por prostitutas. Cabe o questionamento: a justiça é feita para quem? Porque casos como esse apenas evidenciam quem tem privilégios em uma sociedade misógina, e o quanto o Direito pode ser seletivo.
Não foram colocadas nessa publicação fotos do evento ou vídeos da situação, para que a mulher não ficasse ainda mais exposta diante desse caso, enfatizando o fato de que mulheres não são objetos sexuais, mas pessoas dignas de respeito, direitos e liberdade.