Um símbolo da arte malinesa
A inspiradora história de resistência da atriz e cantora Fatoumata Diawara
Com uma consolidada carreira musical na Europa, mas ainda pouco conhecida no Brasil. Fatoumata Diawara, ou apenas “Fatou”, atriz, cantora e compositora malinesa, construiu uma trajetória que evidencia sua resistência como mulher negra, diante de costumes conservadores e imposições à população feminina de seu país.
Nascida na Costa do Marfim e criada no Mali, a ainda criança Fatou se descreve como uma “garota enérgica e teimosa”, mesmo diante de uma educação rígida dada pelos seus pais. Após recusar-se a ir à escola, fora mandada à Bamako, capital malinesa, para morar e ser disciplinada por uma tia que era atriz. Fatou a acompanhava nos sets de filmagem para cuidar de seu priminho. Em pouco tempo, ela receberia uma oportunidade para atuar no filme “O Poder das Mulheres”, o que propiciou sua ascensão no cinema malinês, com o filme “Genesis”, lançado em 1999.
Fatoumata Diawara com um dos trajes usados na gravação do clipe de “Nterini”, single lançado em março de 2018. Foto: Reprodução/Instagram oficial da artista
Mesmo aos 18 anos, Fatoumata rodava o mundo em turnê com a peça do clássico grego de Antígona, e em 2001 ganhou papel principal em “Sia: O Sonho de Python”, longa que fez sucesso no oeste africano. Não por acaso, já que sua narrativa conta a história de Sia, personagem de uma lenda da África Ocidental que desafia as tradições de seu país.
Curiosamente, as histórias de Sia e Fatoumata se confundem. Após o sucesso com a obra cinematográfica, a atriz fora convidada para muitos papéis, e poderia aceitá-los não fosse a rejeição de sua família, que a obrigou a anunciar publicamente o abandono da carreira. As tradições malinesas impõem às mulheres que devam casar-se, sendo uma mulher solteira considerada inferior dentro da sociedade. O Mali também é um dos países com maior incidência de mutilação genital contra a população feminina. Indo de encontro com os costumes malineses, Fatou foge para a França após ser convidada para trabalhar com a companhia de teatro de rua Royal de Luxe. Na companhia, a atriz realizou diversos papéis em turnês pela Europa.
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Durante os bastidores de ensaios na Royal de Luxe, Fatoumata cantava para se divertir, e acabou sendo ouvida pelo seu diretor. Encantado com o talento da artista, fez com que ela cantasse durante as produções teatrais. Encorajada também pelo público, a cantora de um folk mesclado ao wassoulou, gênero musical oriundo do folclore malinês e protagonizado por mulheres, passou a se apresentar em cafés e clubes de Paris, durante os intervalos das turnês. Daí para o sucesso internacional foram apenas alguns passos.
Dotada de uma guitarra e muitas ideias, começou a compor suas canções e dedicar-se a essa nova paixão: a música. Ao gravar com Oumou Sangaré, estrela musical malinesa, conseguiu um contrato com a World Circuit e a gravação de seu primeiro álbum. O disco “Fatou” fora lançado em setembro de 2011, com 12 faixas. Atualmente, Fatoumata Diawara realiza turnê pela Europa, com shows agendados até fevereiro de 2019.
Além de cantar e atuar, Fatou toca violão, guitarra, contrabaixo e percussão. Foto por Francesco Orlandini, via Instagram oficial da artista
A artista concilia suas duas carreiras. Sua filmografia conta com pelo menos 8 obras. Na música, Fatou lançará em maio de 2018 seu segundo álbum, intitulado “Fenfo”. O disco promete ser inovador, mas sem deixar de lado suas raízes. Fatoumata Diawara conta com mais de 300 mil ouvintes mensais na plataforma de streaming de música Spotify, além de grande reconhecimento na Europa.