Guerreira quilombola
A contribuição de Dandara dos Palmares para a abolição da escravatura no Brasil
Brasil Colônia, 1694. Depois de ter uma parte de seu território destruído pelo inimigo e ser capturada para uma vida de servidão, pular de um rochedo abaixo foi sua única e última escolha. Essa é a lenda que cerca o dia da morte de uma heroína negra que lutava contra a escravidão. Dandara dos Palmares teve seus feitos apagados no decorrer da história, mas deve ser relembrada e reconhecida como a guerreira que foi.
Pouco se sabe sobre sua vida, a precariedade dos registros de negros à época, juntamente a uma mentalidade sexista, que invisibiliza figuras históricas femininas, resultaram em uma carência de informações. Não por acaso, ela é apenas lembrada por ser companheira de Zumbi, um dos principais líderes da trajetória do quilombo dos Palmares.
Poster da loja “Conspiração Libertina”: representação e homenagem a Dandara dos Palmares. Ilustração por Reinaldo Dimon. Foto: Reprodução/Conspiração Libertina
Dandara traça sua vida no Nordeste do Brasil. Desde criança foi criada no quilombo e, com muito destaque, aprendeu a fazer parte dessa sociedade. Em Palmares, plantou e colheu para os membros da comunidade, mas além disso, desempenhou funções de caçadora, desenvolveu suas habilidades como capoeirista e dominou o manejo de armas.
Forma-se guerreira, esteve presente em todas as lutas para defender o quilombo, participou de resgates de escravos e arquitetou planos de ataque. Como uma das representantes de Palmares, tomava decisões importantes para as vidas de sua população. O episódio mais conhecido que envolveu essa figura histórica aconteceu quando o antecessor de Zumbi propôs um acordo entre os escravocratas e o quilombo, mas Dandara recusou-se a apoiá-lo e mobilizou-se contra o chefe da comunidade. Seu objetivo era libertar o povo, e qualquer trato com a elite seria uma forma de mascarar os danos da escravidão.
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As atitudes de Dandara revelam uma mulher de forte posicionamento e inversa a padrões de gênero. Seus atos não deixam que se esconda a resistência histórica da população negra. A protetora do quilombo localizado na Serra da Barriga, Alagoas, e que abrigou 20 mil pessoas, torna-se um orgulho para o progresso do país e uma referência para os negros.
Depois de 130 anos da abolição da escravatura no Brasil, é necessário resgatar os heróis e heroínas da liberdade e promover a igualdade racial. No caso de Dandara, nosso trabalho é manter a pouca memória preservada da mulher que preferiu a morte a escravidão. Sua figura é exemplo para futuras guerreiras que irão lutar por mais direitos à população negra. Hoje encontramos homenagens a ela em músicas, como a canção “Dandara” da banda pernambucana N’ZAMBI, e na literatura, com os contos de Jarid Arraes em “As Lendas de Dandara” e cordéis em “Heroínas Negras Brasileiras”.