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Sequelas da pornografia

Estefani Panaino

A conteúdos eróticos tornam-se pauta para estudiosos da área da saúde e grupos se mobilizam para frear o consumo

 

No Brasil, 22 milhões de pessoas declaram assistir pornografia, dentre elas, 76% são homens, e os altos números se repetem por todo o globo. Apenas em 2017, o PornHub, um dos principais sites de conteúdo erótico, divulgou que recebeu 28,5 bilhões de visitantes. A estatística chamou atenção de especialistas como Gary Wilson, que escreveu o livro “Your Brain On Porn”, onde explica a forma como a pornografia age no cérebro das pessoas. Ela funciona alimentando o sistema de recompensas, um dos mecanismos responsáveis por causar vícios, o pornô, portanto, pode se tornar um elemento essencial da vida desses consumidores.


O vício na pornografia torna outras atividades do cotidiano menos prazerosas e provoca efeitos físicos, mentais e nas relações sociais e sexuais dos homens. O pornô cria um cenário que a realidade não atinge, diminuindo o prazer e desempenho sexual. Harry Fisch, urologia e especialista na saúde masculina, e Abraham Morgentaler, professor de Harvard e diretor do “Men’s Health Boston”, afirmam que o estímulo virtual é muito forte e tende a fazer com que homens desenvolvam disfunção erétil cada vez mais cedo.


O uso em excesso também é relacionado com ansiedade, depressão e pânico, como destaca Eduardo Guedes, pesquisador e diretor do Instituto Delete, uma iniciativa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que tem como um dos serviços auxiliar no combate a utilização abusiva de pornografia.


Afetados pelas consequência do pornô e a fim de parar o consumo de conteúdos eróticos, homens recorrem a grupos apoiadores do movimento “porn reboot” (“reinicialização pornô”), que consiste no desincentivo a assistir pornografia e na redução da masturbação. Em 2016, o ator Terry Crews falou sobre sua experiência com o vício e superação, em uma iniciativa semelhante às ideias do “porn reboot”.


Estar ciente das consequência da pornografia e reconhecer a dependência em consumir esse tipo de conteúdo é suficiente para fazer parte do "porn reboot". Segundo os relatos dos adeptos ao movimento, a mudança começa com o afastamento temporário da internet (para evitar recaídas nos primeiros dias) e principalmente o enfrentamento de pensamentos ligados a fantasias sexuais, eles também buscam suporte em fóruns e grupos de apoio voltado a pessoas viciadas em sexo.

O Nexo Jornal, em entrevista com membros do movimento, reuniu alguns dos benefícios do “porn reboot”:

Violência e o perfil da pornografia

Em 2015, o PornHub divulgou as 25 palavras mais buscadas por brasileiros na sua plataforma, e algumas chamam a atenção, dentre elas estavam: escola, novinha, teen e lesbian.


As três primeiras destacadas fazem associação a crianças e jovens, configurando incitação a pedolifia. A psicóloga e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Jane Felipe Souza, utiliza o termo “pedofilização” para descrever o caráter de concordância com o crime dentro de manifestações culturais, como cinema, música, moda e pornografia. Essa característica em conteúdos eróticos idealizam fenótipos e trejeitos infantis nas atrizes e acarreta na naturalização da sexualização de menores.


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A busca intensa por sexo entre mulheres em plataformas de pornografia confirma a ideia de que esses são filmes produzidos para o fetiche do público masculino, e reforça a invalidação das relações sexuais de lésbicas ou monodissidentes (como bissexuais, panssexuais e polissexuais). No texto “Por que todos os tipos de pornografia lésbica são prejudiciais”, assinado por Yatahaze, publicado na revista online Medium, o “sexo lésbico” no pornô, a partir de uma análise, é relacionado com violência entre as participantes, e para uma mulher sentir de fato prazer ao assistir, ela deve se desassociar da personagem. O artigo também ressalta que a caracterização das atrizes majoritariamente atende a gostos masculinos.


Além de incentivar práticas criminosas e violentas, a pornografia sequer é um instrumento seguro para ensinar sobre sexo. Como qualquer entretenimento produzido, ela não reflete a realidade, mulheres são retratadas a partir de padrões beleza e possuem corpos avantajados. O prazer feminino no geral não é explorado, fato que traduz-se em dados da vida real: apenas 65% das mulheres atingem o orgasmo em relações heterossexuais, contra 95% dos homens.

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