Bissexualidade presente
Saiba as pautas específicas dos monodissidentes e redes de apoio para essa população
Além de enfrentar violência como toda a população LGBT, a comunidade bissexual é especialmente invalidada. A conquista por um mês para visibilidade bi, setembro, foi mérito de uma resistência solitária que desbravou caminhos não explorados por gays e lésbicas. Isso se deve a existência de pautas distintas entre o monodissidentes (pessoas que sentem atração por mais de um gênero) e os homossexuais.
A diferença essencial entre bi e homo está na forma como eles irão se relacionar afetivamente, e cada maneira de demonstrar afetividade reflete-se na sociedade de um jeito singular. Ao ser pouco discutida e representada, a bissexualidade é vítima de estereótipos próprios. O primeiro deles é o entendimento dessa sexualidade como uma “fase”, apesar de LGBTs no geral poderem ser alvos dessa violência, esse preconceito se manifesta no monodissidente por ele ser considerado confuso, sem ciência e clareza de seus desejos e romances.
Manifestação bissexual. Parada LGBT 2016, São Paulo. Foto: Reprodução/Folha de São Paulo
Em decorrência do primeiro preconceito, a bissexualidade é considerada uma sexualidade incompleta, como se estivesse entre o homo e o hétero. A invalidação do bissexual o faz enfrentar dificuldades para declarar-se monodissidente e provoca nele questionamentos sobre suas vontades.
A bifobia aliada ao machismo faz com que mulheres bis sejam objetificadas ao terem o envolvimento sexual com outras mulheres fetichizado por homens. É comum, por exemplo, que haja propostas de ménages, levando em conta apenas a sexualidade dela, em vez de seus gostos.
O preconceito contra o bissexual também aparece nos relacionamentos, violência exclusiva do monodissidente, pois pode se envolver com alguém de outra orientação sexual. Quando envolvido com heterossexuais ou homossexuais, são questionados sobre a sua fidelidade. O bissexual carrega consigo o peso de ser taxado como mais propenso a trair, o argumento considera o fato do bi sentir atração por mais de um gênero algo perigoso em detrimento de seu caráter.
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Dentro do movimento LGBT, lugar onde as minorias deveriam buscar amparo, o bissexual também é hostilizado. O preconceito que sofre não é legitimado por também se relacionar com pessoas do sexo oposto, entende-se que isso o torna mais privilegiado do que homossexuais, esse posicionamento excludente ignora toda a conjuntura violenta em que o bi está inserido. A relação afetiva entre lésbicas e mulheres monodissidentes pode estar envolta em intolerância manifestada na aversão ao envolvimento sexual com bis ao assumir que as bissexuais são portadoras de doenças sexualmente transmissíveis.
Como toda comunidade LGBT, o bissexual não é bem representado nas obras e universo cultural. Contudo, entre as sexualidades, monodissidentes são os que possuem menos visibilidade. Personagens e influenciadores são ligados à heterossexualidade ou homossexualidade mesmo quando se encaixam no espectro da bissexualidade, ou seja, relacionam-se com mais de um gênero. A falta de associação como bi acontece dentro da obra (ao sequer citar a sexualidade) e na mídia (ao assumir a pessoa como homo ou hétero).
Representatividade: Marielle Franco, ativista política bissexual. Foto: Reprodução/Vírgula
Assumir a sexualidade não é simples quando se está vulnerável a LGBTfobia, mas personalidades que declaram ser bissexuais têm sua orientação sexual velada. Freddie Mercury, compreendido como gay e que performa feminilidade; Marlon Brando, ator sex-symbol “machão”; Frida Kahlo, artista revolucionária e que viveu relacionamentos com muitas mulheres além de Diego Rivera; Marielle Franco, ativista política assassinada em março e tratada como lésbica por muitos veículos, são exemplos monodissidentes.
Na falta de apoio dentro da comunidade LGBT+ e sujeita a discriminação em todos os tipos de relacionamento, redes de apoio específicas para bissexuais mostram-se como alternativa para essa população. Um dos principais grupos recomendáveis é o coletivo Bi-Sides, que promove reuniões para monodissidentes, participa de protestos e caminhadas, e produz conteúdos em texto e vídeo sobre as pautas do movimento e assuntos de interesse do seu público. Apesar de focar a atuação em São Paulo, seu site disponibiliza uma lista de terapeutas de diversos estados indicados pela comunidade.