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Universidades são pichadas com manifestações preconceituosas

Estefani Panaino

ELEIÇÕES

A maioria das frases posicionam-se favoráveis a Bolsonaro e estudantes negros e LGBTs temem seus eleitores

 

Durante o período de campanha eleitoral, os números de crimes por motivação política pró-Bolsonaro têm crescido, de ameaças a assassinatos. Contudo, instituições de ensino não se isolam da estatística, universidades e escolas do País inteiro registram casos de manifestações favoráveis ao presidenciável em detrimento das minorias sociais.


Alunos se manifestam a favor de Bolsonaro através de pichações preconceituosas, a maioria delas declara ódio a LGBTs e negros e usam o candidato para sustentar a violência. O banheiro da unidade Tamandaré do cursinho Anglo, São Paulo, foi marcado com uma pichação que dizia “Bolsomito 17”, “Morte aos negros, gays e lésbicas” e “Já está na hora desse povo morrer”, a instituição divulgou uma nota de repúdio.


Cartazes em oposição à intolerância expostos na FDSBC. Foto: Estefani Panaino


Um dia depois desse caso, foi encontrada uma pichação na Faculdade Direito São Bernardo do Campo (FDSBC) em que estava escrito “Bolsonaro vai limpar essa faculdade de preto e viado”, “17” e “Preto vai morrer”. Em Brasília, a UnB acionou a Polícia Federal para investigar o caso da pichação que associava a vitória do candidato a um massacre em uma escola norte-americana, “Se Bolsonaro for eleito, é Columbine na UnB”.


No mesmo período, outras universidades foram pichadas com mensagens de ódio, mas sem citar o candidato. Foi o caso da Universidade São Judas Tadeu, em que foi pichado no banheiro “Vão se f**** seus negros e feministas de merda, gays do demo, burn jews (queime judeus)”, além de desenhada uma suástica no local, em outra cabine estava escrito “ideologia de gênero é o c******”.


A USP também registrou um caso, dessa vez foram pichadas suásticas em cinco portas do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (CRUSP), apesar de não citar o candidato, um aluno da universidade, em entrevista para o G1, associa o acontecimento a influência do presidenciável do PSL. "As pessoas que estão mais vulneráveis são as negras, homossexuais. O clima dentro do CRUSP não está diferente do que está acontecendo fora. É um clima de insegurança geral gerado pela onda de fascismo, intolerância, desrespeito. E tem um líder político incitando essas pessoas, que é deputado Jair Bolsonaro (PSL)".


Vítimas e combate à violência


Quando manifestações preconceituosas acontecem dentro de universidades, além da instituição tomar iniciativas legais, existem grupos de resistência que se posicionam contra a violência. No caso da FDSBC, o coletivo feminista Carphania foi uma das peças fundamentais para promover diálogos e ações de combate à intolerância.


Duas meninas do coletivo encontraram a pichação no banheiro da faculdade e entraram em contato com responsáveis da instituição, que tomaram as devidas providências, acionaram a polícia, removeram rapidamente a frase estampada na cabine e divulgaram uma nota de repúdio. Ao saber do caso, o coletivo também lançou uma nota em suas redes sociais. No fim do dia, Carphania se reuniu em um ato dentro da universidade organizado pelo Centro Acadêmico.


O coletivo promove ações permitidas pela faculdade, costumam manifestar-se através de cartazes espalhados pelos corredores e dialogam com outros grupos e instâncias da universidade para encontrar soluções de combate à violência contra minorias sociais. Na semana passada, o Carphania convocou a Atlética da universidade para uma reunião, o objetivo foi cobrar um posicionamento formal do grupo, já que possui muita influência entre os alunos.


Cartazes produzidos pelo Carphania. Foto: Estefani Panaino


Esse foi o segundo caso de pichação racista e LGBTfóbica do ano, o primeiro aconteceu início do semestre passado, mas sem citação política. Diante do primeiro acontecimento do ano, a FDSBC dedicou sua tradicional Semana Jurídica à palestras sobre intolerância, contudo, segundo o Carphania, ações como essa não são eficientes. As meninas do coletivo argumentam que o problema está no alcance dessa ação, já que as palestras não são obrigatórias e assistem a elas apenas pessoas que convergem com o assunto. Em entrevista, o grupo conta que o ideal seriam discussões dentro da sala de aula.


Luisa Schuler ainda está no primeiro ano da faculdade, e como mulher negra, sentiu-se atingida pelas pichações. A estudante encara o autor como alguém covarde e que sabe que sua frase configura um crime. Para ela, existe uma diferença entre as duas manifestações, considera o caso recente mais sério por possuir também uma motivação política. “As pessoas se sentem na liberdade de falar coisas absurdas por causa de um político”.


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Membro da comunidade LGBT e negro, Otávio Marques conta que se sentiu mais atingido com a segunda pichação do ano, já que ela especificou seu gênero (a pichação dizia “preto viado”), enquanto a primeira referia-se a mulheres negras lésbicas. Segundo Otávio, o primeiro caso teve mais visibilidade em relação ao segundo, “Isso me assusta, porque parece que estão naturalizando esse tipo de manifestação preconceituosa”.


Os dois estudantes concordam em dizer que não temem diretamente Bolsonaro, e sim seus eleitores. “Dá medo, a sensação é de impotência”, conta Luisa. Como minorias, dizem não se sentir confortáveis e seguros dentro da universidade. “Eu tenho que ter a segurança que um branco hétero tem”, completa Otávio.

Entrevistas com participação de Caroline Almeida

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