Militância e produção
Em seus projetos profissionais, a produtora Katia Manfredi insere pautas do feminino e movimento LGBT
A atriz e produtora Katia Manfredi vem exercendo seu ativismo feminista e LGBT junto de sua carreira. Os projetos que produz desempenham um papel fundamental na vida das mulheres, artistas e produtoras dentro do cenário artístico independente.
Nascida em São Paulo, aos 18 anos ingressou no curso de teatro, mas não chegou a concluir. Mais tarde formou-se em comércio exterior e atuou na área de logística em multinacionais durante nove anos. Decidiu deixar a profissão para iniciar carreira como atriz e logo depois começou a fazer parte da produção de peças de maneira informal. Passou a trabalhar oficialmente como produtora em 2011 na Companhia Paulista de Artes, e hoje é convidada para palestrar sobre o tema.
Uma produtora é responsável por todos os detalhe da organização de evento, espetáculo ou show. Foto: Reprodução/Facebook Coletivo Coisarada
Após sair da companhia e começar a produzir teatro e música de maneira independente, abriu sua própria produtora, a Tomada Cultural. Ela conta que a decisão surgiu da necessidade, “eu já não estava mais dando conta trabalhar apenas com freelance e comecei a fechar contratos maiores, que exigiam um CNPJ e a emissão de notas, então eu resolvi abrir minha própria empresa”.
A Tomada Cultural existe há três anos e meio, Manfredi conta que a empresa foi idealizada de acordo com os ideais que ela e as pessoas com quem trabalha acreditam. Parte das produções que realizam são de cunho social e político e trazem aspectos da luta das minorias sociais. O feminismo que acompanha sua carreira veio quase automaticamente, quando começou a ser chamada para produzir eventos e festivais. Katia faz parte da organização de dois eventos em Jundiaí, que são produzidos por e para mulheres uma vez ao ano.
O Festival Delas - Mulheres na arte, tem como objetivo visibilizar trabalhos artísticos de mulheres e inseri-las em diversos postos da área de produção, como design e montagem de exposição. O evento que caminha para sua 4º edição também cumpre o papel de investir na carreira das mulheres, parte do caixa é destinado a cursos de especialização e técnicos realizados por mulheres.
Outro projeto em que está envolvida é a Virada feminista independente de Jundiaí, que foi idealizado de maneira independente e tem como proposta promover espaço de fala para mulheres, a ideia é estimular a troca de experiências e discutir o feminismo em diferentes aspectos dentro da arte. As artistas participam da programação voluntariamente.
Leia também:
Katia fala sobre os comentários machistas sobre seu trabalho, “eles dizem coisas como ‘nossa, precisa segregar e ser só mulher?’. Ver mulheres produzindo gera estranhamento, mas quando se vê uma produção realizada só por homens ninguém acha que é machismo. É interessante notar até onde incomoda”.
Ela também faz parte do Coletivo Coisarada, composto por produtores, que realiza dois saraus todo mês: O Sarau da Coisa, que é misto e atende as demandas de comunidades e escolas, e o Sarau Das Mina, em que Katia é uma das idealizadoras. Manfredi explica que a criação de um sarau voltado às mulheres veio da necessidade de reservar um lugar de fala feminino, algo que pouco acontece no Sarau da Coisa. Em entrevista, ela conta casos de mansplaining e manterrupting, depois de uma situação específica decidiu “criar um espaço onde só as mulheres falem e se sintam empoderadas”.
A produtora também promove por meio da Tomada Cultural a Feira de troca, que organiza bancas de livro, roupa, brinquedo e outros, que estimula diminuir o consumo e reaproveitar os produtos, além de convidar especialistas para dar oficinas como customização de roupa. “Os trabalhos que a gente realiza, de alguma maneira, me movem politicamente, socialmente e nas minhas militâncias”, completa Katia Manfredi.