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Estefani Panaino

Kindred: uma novidade para o mercado editorial brasileiro

A ficção científica que você não está habituado a ler aliada a discussões raciais

 

É indispensável para a apresentação deste livro falar sobre seu recente lançamento no Brasil. Kindred foi escrito em 1979 pela estadunidense e ativista do movimento negro Octavia Butler, mas somente em 2017 ganhamos uma edição traduzida. Esse acontecimento extraordinário rendeu um evento para discutir o romance juntamente a figuras como Jarid Arraes, muito referida por aqui, e Nátaly Neri, do canal Afros e Afins. A discussão prévia foi fundamental para destacar pontos e impressões pessoais de pessoas que têm mais propriedade para falar do assunto.


A narrativa é uma ficção científica que quebra com nossas pré-impressões do que seria este gênero. Mesmo que trate de uma viagem no tempo, o livro carrega um realismo muito forte e cru. Octavia conta a história de Dana, uma literata negra pouco conhecida que vive em 1976, mas uma ligação com o passado faz com que ela volte para o século XIX nos Estados Unidos escravocrata.


Edição de Kindred. Foto: May Fury (26/10/17)


Um livro de viagem no tempo poderia narrar divertidas aventuras da personagem, mas não seria Kindred. Conhecer seus antepassados e provocar mudanças malucas no futuro parece mais um enredo com gente branca, como frisa Nátaly, palestrante do evento sediado no Centro Cultural São Paulo.


Essa trama somada à descrição precisa de Octavia, que revela ao público a velada história do negro, podem ter afastado as editoras nacionais de promover uma publicação ágil. Kindred está longe de ser o tipo de ficção científica expectada pelos leitores tradicionais, daquelas que envolvem criaturas exóticas e eventos mágicos.


Nátaly Néri e Jarid Arraes depois da palestra no CCSP. Foto: May Fury (26/10/17)


A carência de autoras e autores negros publicados barra uma parcela dos leitores a se sentirem reconhecidos e espelhados nos literatos. O mercado editorial expõe preconceitos quando limita seus lançamentos a escritores brancos e histórias centradas no universo europeu, dificultando o acesso da população a novos conteúdos e o reconhecimento de outros autores, drama vivido e compartilhado pela escritora Jarid Arraes.


A leitura de Kindred amplia seu repertório para entender a relação do negro com a sociedade e sua trajetória violenta, além de abrir espaço no conceito de ficção científica. Estão todos convidados a embarcar no estilo literário de Octavia Butler e sua escrita agradável e fluida.


 

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