Wakanda para sempre
“Pantera Negra” estreia no cinema e discute questões sociais
A primeira vez que Pantera Negra apareceu no universo dos quadrinhos foi em 1966, meses antes da fundação do Partido dos Panteras Negras nos EUA. Porém, o desejo de lançar um filme do herói não é mérito de 2018, há mais de dez anos, em 2007, o diretor John Singleton divulgou o projeto de produzir um longa, mas que não foi para frente.
O filme dirigido por Singleton teria como um dos cenários as revoluções raciais americanas dos anos de 1960. Um dos atores sondados para o papel de protagonista dessa versão de “Pantera Negra”, Wesley Snipes, comenta como a população reagiria ao assistir o longa idealizado em 2007. “Cara, você não vai conseguir vender nenhum boneco ou disco com isso (...) vai assustar as pessoas. As comunidades brancas vão surtar se você chega falando de Pantera Negra.”
A previsão de Snipes também serviu para este ano: segundo uma matéria da CartaCapital, um grupo americano mobilizou-se para avaliar o filme negativamente antes de sua estreia, incomodados com uma obra que trouxesse diversidade ao universo nerd. Por outro lado, 260 mil dólares foram levantados a partir da hashtag #BlackPantherChallenge, para organizar sessões gratuitas de “Pantera Negra” destinadas a crianças afro-americanas.
A representatividade de Pantera Negra. Idealização por Lucas Silva e Rennan Lemes, trabalho artístico por Valdeci Crabi
Ambos eventos revelam como o filme tem impacto na sociedade, aponta a intolerância da comunidade branca e mostra a importância do herói à população preta.
Produzido por Ryan Coogler, o longa se ambienta em sua maior parte em Wakanda, reino fictício africano, que nunca passou pela colonização europeia. T’Challa (Chadwick Boseman) é o sucessor do trono, assim que inicia sua liderança adota os poderes da Pantera Negra, e passa a ser o protetor de sua nação e o super-herói que conhecemos.
Pôster de divulgação de “Pantera Negra”. Foto: Reprodução/M de Mulher
Wakanda rompe com o estereótipo de país africano pobre e mal desenvolvido. O reino é avançado em tecnologia ao mesmo tempo que segue tradições dos ancestrais. Vibranium é um dos principais metais da região, que garantiu ao povo progresso no âmbito da ciência.
A principal intriga da narrativa é a divergência de ideias entre a população para o futuro do reino. T’Challa conserva a visão dos antigos reis, e quer manter Wakanda longe de problemas externos, enquanto Killmonger, um poderoso personagem, induz o povo a lutar pela distribuição do valioso metal aos irmãos oprimidos do Ocidente, o que pode incentivar uma guerra.
Apesar do conflito entre os ideais, Pantera Negra e o oponente têm em vista o combate à opressão da comunidade preta. O filme propõe justamente que pensemos em formas razoáveis de resolver conflitos raciais.
Personagens Nakia e Shuri. Foto: Reprodução/Universo Marvel 616
Nesta batalha o protagonista tem como aliadas três fortes mulheres: Shuri, sua irmã e uma fantástica criadora e manipuladora de tecnologias com Vibranium, Nakia, espiã secreta de Wakanda e Ramona, sua mãe, uma mulher protetora e justa, que sempre está ao lado dos filhos.
O longa se diferencia de outras produções com heróis negros, como “Luke Cage” ou até “Super Choque”, animação popular do início dos anos 2000, porque “Pantera Negra” é composto por um elenco majoritariamente preto, possuiu papéis femininos fortes e o protagonista promete participar do núcleo mais importante da Marvel, Vingadores. A obra não deixa pontas soltas quando o assunto é debater contrastes sociais e representatividade. Reafirma a luta da população preta e dá um show de empoderamento feminino negro com as principais personagens e o exército da nação formado por mulheres.
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