Padrões de beleza: o verdadeiro espetáculo social
Dietas, regimes e tratamentos estéticos tornam-se cada vez mais perigosos para a mulher
Quem nunca ouviu alguém falar sobre uma dieta nova, um detox inovador, ou um novo tratamento estético que promete milagres? Em uma simples busca pela internet, nos deparamos com inúmeros métodos duvidosos para se alcançar um padrão de beleza muito imposto na sociedade: a magreza.
Obra impressionista “As Grandes Banhistas”, pintada por Pierre-Auguste Renoir de 1884 a 1887. Foto: Reprodução/Croissant De Lune
Mas essa preocupação com a balança não existe há tanto tempo assim, basta analisar as obras de arte dos séculos passados, em que as mulheres eram retratadas com um quadril mais largo, as coxas mais grossas e um rosto mais cheio. Atualmente, o padrão valorizado se inverteu, mas a lógica permanece. “Os padrões que aparecem ao longo da história são, como regra, acessíveis a poucos”, afirma a psicóloga Joana de Vilhena Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza e representante da Fundação Dove para a Autoestima no Brasil, à revista Superinteressante.
Assim sendo, em épocas passadas, fazer três refeições por dia era luxo, e morrer de fome era comum, portanto a gordura era sinônimo de privilégio. Atualmente, temos mais alimentos a disposição, então é mais fácil ter a comida e conservá-la, como salgadinhos e bolachas. Por isso, as modelos magras são exaltadas, pois é desafiador ser magra com tantas calorias ao nosso dispor.
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Por conta desse padrão de magreza estabelecido, as modelos passaram a ser 23% mais magras que uma mulher nas medidas saudáveis, e apenas de 1966 a 1969, a porcentagem de jovens que se consideravam acima do peso saltou de 50 para 80%, de acordo com pesquisas feitas pela jornalista americana Naomi Wolf, publicadas no seu livro “O Mito da Beleza”, na década de 1990.
Esse estereótipo é tão problemático que as chances de uma jovem entre 15 e 24 anos morra devido a uma anorexia é 12 vezes maior do que por qualquer outra causa. Sendo que 60% de alunas no Ensino Médio fazem dieta, e a preocupação do peso já atinge meninas de apenas 5 anos, como demonstrado em pesquisas do portal científico Journal of the American Academy of Child.
Antigamente, ser gordo era estar dentro do padrão estético valorizado. Foto: Reprodução/WeLoversize
Por isso outdoors no meio das cidades com propagandas que prometem o famoso “corpo do verão”, fotos nas redes sociais de modelos cada vez mais magras, e todos os métodos estéticos, de dieta, sucos e sopas que contenham a mensagem que “para se sentir bem é preciso ser magra”, são tão prejudiciais. Estes propagam um estereótipo inalcançável e prejudicial à saúde de jovens, como comprovado por estudo da Unifesp, que analisou 112 dietas, e apenas uma atendia os requisitos mínimos para garantir a nutrição de uma pessoa.
Até a gravidez, que seria supostamente o único fenômeno biológico que permitiria a mulher ser gorda, foi afetada por essa obsessão pela magreza. Atualmente a moda é ser “mãe fitness”, ou seja, uma barriga que abriga um bebê tem que ser pequena e sarada. Se a mulher já tinha dificuldade de voltar ao peso original após a gravidez, imagine agora com essa pressão social que até durante o período gestacional ela deve se manter magra.
A gravidez fitness: a modelo Sarah Stage e sua “barriga sarada”. Fotos: Reprodução/Instagram
Quando analisada, a magreza sendo utilizada como sinônimo de beleza é mais uma forma de impor um padrão de uma classe dominante sobre a dominada, em que para ser magra é necessário dinheiro, para passar por tantos tratamentos a fim de alcançar o corpo perfeito, além de reforçar a ideia de que o corpo feminino é um objeto que pode ser modificado e moldado. Realçado ao fato de que a moda recorre sempre o corpo da mulher branca, alta e magra, pois é este o corpo padrão de beleza que decorreu de um contexto cultural e histórico que estabeleceu as relações de classe na sociedade. Como tratado no livro de Naomi: “uma fixação cultural na magreza feminina não é uma obsessão pela beleza feminina, mas uma obsessão pela obediência feminina”.