A célebre travesti da TV brasileira
Trajetória de uma das transformistas mais influentes do Brasil
A personalidade que surgiu como maquiadora, a travesti Rogéria ficou mundialmente conhecida por suas apresentações nos palcos como atriz e cantora. Desenvolveu papel fundamental no meio artístico por suas personagens, consagrando-se como transformista, caracterizava-se com roupas e acessórios femininos.
A artista carioca, nascida em Cantagalo, foi criada na capital do Rio de Janeiro, onde teve contato com a arte. Em sua adolescência, entrou para o teatro, explorando a sexualidade em vários personagens, já que desde a infância se assumia homossexual. Logo virou maquiadora na TV Rio, neste período, sob incentivo de Fernanda Montenegro, passou a ser Rogéria, uma mulher do humor.
Artista do humor. Foto: Reprodução/Casa Vogue
Começou sua carreira em 1964, quando surgiu o primeiro espetáculo nacional de transexuais “Le Girls”, que acontecia em meio à censura da ditadura militar, que perseguia o cenário artístico. No mesmo ano, ganhou um concurso de fantasias no carnaval, já conhecida por participações frequentes nos programas de auditório da Rádio Nacional.
A repressão política não a intimidava, seguiu apresentando-se e teve a oportunidade fazer parte do elenco de grandes comédias do teatro, como o espetáculo “Alta Rotatividade”, de 1976, dividindo palco com o comediante Agildo Ribeiro, com quem compartilhava um talk show. A sua resistência artística levou-a a conquistar o Troféu Mambembe, em 1979, antigo prêmio do Ministério da Cultura.
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Morou durante cinco anos na França, momento em que fez carreira como cantora na Europa. O seu trabalho na televisão começou em 1986, como jurada de programas de auditório como “Cassino do Chacrinha” e “Caldeirão do Huck”, também foi repórter do “Viva a Noite” e logo foi chamada para atuar em novelas e séries, como “Tieta”, “Sai de Baixo” e “Pé na Cova”. Ela autointitulava-se como “a Travesti da família brasileira”, por aparecer na TV no horário nobre, contribuindo para desconstrução de questões de gênero.
"A travesti da família brasileira". Foto: Reprodução/Diário de Pernambuco
Em 2004, estrelou na peça “Divinas Divas”, no Teatro Rival, que representou uma mudança da mentalidade do entretenimento nacional com o impacto que as transexuais e transformistas causaram ao começarem a se apresentar para um público que nunca havia as enxergado antes como artistas. O espetáculo ficou em cartaz durante dez anos e inspirou o documentário musical de mesmo nome, dirigido por Leandra Leal e lançado em 2016.
Após anos de uma carreira renomada, em 2016, foi lançada sua biografia “Rogéria – uma mulher e mais um pouco”, escrita por Márcio Paschoal, em que relembra a trajetória e a vida como travesti dessa personalidade. Apesar de não ter sido engajada no movimento LGBT+, a artista falecida aos 74 anos, no fim do ano passado, deixou um grande legado e seu pioneirismo abriu as portas desse universo para outras transformistas no Brasil.