Caminha comigo, menina
Resistência em meio a letras e vivências
Em um misto de ritmos e sons, a cantora e compositora Rebeca Canhestro traz em cada letra uma série de vivências, em que mantém um diálogo com quem escuta suas canções, transmitindo emoção e sentimento. Por trás da voz que encanta o público, deixa sua marca e resistência de ser uma mulher lésbica e latinoamericana.
A artista nascida em São Paulo desde a infância teve contato com a música e tinha hábito de escutar junto com seus pais. Aos doze anos, começou a se interessar por violão, e foi na igreja que desenvolveu o seu talento e conhecimento musical, durante quase três anos tocava nas missas.
Mais tarde, mudou-se para Uberaba, cidade do interior de Minas Gerais, onde ingressou na Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em que iniciou sua carreira na música, e formou-se em Letras. Lá, participava do projeto autoral “De Bem”, banda criada por ela e mais quatro estudantes. Levando a carreira solo, diversas vezes foi chamada para tocar em atividades culturais das ocupações e saraus organizados pelo movimento estudantil, momento em que aproximou-se da militância.
A sensibilidade dos ritmos que agitam o público. Stereo Lab Festival 2017. Foto: Bruna Nogueira/Coletivo Moviola
Em 2015, lançou seu primeiro disco, “II Eixos”, produzido em Uberaba. Rebeca conta como foi consolidar esse trabalho: “Eu mostrei tudo o que tinha e o produtor do disco gostou muito, decidimos por tirar duas das músicas que eu vivia tocando na cidade, então só coloquei composições inéditas. Ainda hoje me impressiona saber que existe gente que ouve. Foi um grande marco para eu entender que estava pronta pra viver da música e assumir que sou artista”.
Foi nesse mesmo período, na UFTM, conciliando os estudos e a carreira, que teve contato com a arte latinoamericana, conheceu poetisas e cantoras latinas, como Violeta Parra e Gabriela Mistral, que a inspirou nos processos de composição. Considera essencial as letras de suas músicas, as trabalha minuciosamente, procurando contar em primeira pessoa situações que ocorrem à sua volta, aproximando-as da realidade de quem escuta. Seu estilo agrega ritmos variados, como samba, valsa, MPB e rock. Cada canção é uma conversa sobre erros, dores e superação.
Rebeca conta sua experiência como mulher no cenário musical, “se você está com uma banda masculina, sua voz não é ouvida mesmo, já aconteceu de ir fazer a passagem de som, pedir pra aumentar ou baixar, e o cara acha que você nem sabe do que está falando e te ignora, isso costuma acontecer bastante, tem que estar atenta e mostrar resistência”.
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Na música independente, vem crescendo uma onda de projetos que englobam musicistas femininas, Canhestro participa da rede de mulheres “As Minas Tudo”, que milita pelo feminismo no atual cenário musical brasileiro. Além de também já ter se apresentado em outros projetos feito por e para mulheres. No ano passado, com a canção “Convicta”, concorreu no “Festival Maçãs”, cuja proposta era trazer composições com temáticas femininas.
Ela começou a compor “Convicta” aos quatorze anos e modificou a letra quando já estava no meio musical, ao retomar a composição, passou por um diálogo com a Rebeca da adolescência. A artista conta como foi o processo, “eu me coloquei inteira, do começo ao fim dessa música, que fala da questão de ser lésbica explicitamente e o quanto o nosso corpo é marcado por olhares e violências. É autobiográfica, eu ainda sinto dificuldade de cantar ela, acho que em muitos aspectos 'Convicta' é uma das que mais marca, além de também ser uma das primeiras músicas que fiz”.
Participação de Rebeca no projeto "Elas, que navegam". Foto: Lorena Rezende
Esse ano, Rebeca participou da “XVI Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo” e no encerramento apresentou-se a partir do grupo “As Minas Tudo”. “O feminismo está sendo proliferado de tantas formas, a gente está conseguindo progredir, então esse movimento de não ser só artista mas também militante é fundamental”. A militância presente na vida da cantora tem servido de inspiração para que outras garotas continuem conquistando espaços.
Apesar das dificuldades de ser musicista independente, um dos seus maiores estímulos para continuar é receber a força de pessoas que a incentiva e poder mostrar sua música. Movida pela arte, Rebeca Canhestro está lançando o seu mais recente projeto musical em parceria com as artistas Malu Magri, Lana Spada e Nã Maranhão, “Manacá me viu pequena” vem chegando cheio de surpresas e muito talento.
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