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Música, política e América Latina

Estefani Panaino

Como a música nacional ganhou força no Chile e assumiu um papel político

 

"Acredito que é possível falar em uma nova canção chilena", escreve o radialista Ricardo García para a revista Ritmo de la Juventud, em 1969. Até os anos 1960, o Chile, como toda a América Latina, era influenciado pela cultura norte-americana, inclusive nas produções musicais. No entanto, nesse período, artistas surgiram no país a fim de reviver os ritmos de seus ancestrais e resgatar histórias tradicionais do folclore chileno. O novo estilo ficou conhecido como neofolk, mas manteve seu sucesso por apenas seis anos. Logo o mercado musical se tornou um espaço saturado de grupos neofolclóricos, e suas produções passaram a soar repetitivas. O mesmo radialista, adepto dessa crítica, contudo, em 1966, fez suas ressalvas e destacou Voces Andinas, Víctor Jara, Fernando Ugarte e Payo Grodona como figuras inovadoras do neofolk.

Víctor Jara foi torturado no Estádio Nacional do Chile depois do golpe militar de 1973, que matou presidente Allende e colocou Pinochet no poder. O professor, ativista, compositor e músico foi assassinado pelo militar Barretos com um tiro na cabeça, depois de morto teve o corpo fuzilado. Foto: Reprodução/ EBC

No artigo, "Os primeiros festivais da nova canção chilena", a evolução de alguns artistas do neofolk é relacionada ao surgimento de uma nova modalidade de casa de show, que deu abertura para o desenvolvimento do estilo. Em 1964, os irmãos Angél e Isabel Parra inauguram a Penã de los Parra, que inova o conceito de penã (bar com atrações musicais) chilena, e constroem um espaço descontraído com abertura para apresentações e debates políticos.


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+ Ineficiência da Lei de Drogas O sucesso da Peña de los Parra fez surgir outras casas de show no mesmo estilo em sindicatos, centros estudantis e outros espaços públicos. Esses bares se tornaram populares e assumiram a função de formação de consciência política e disseminação da música nacional. “Adquiriu a fama de viver cheia de revolucionários, desde marxistas até uma nova modalidade de cristãos de esquerda”, conta Joan Jara, dançarina, ativista e companheira de Víctor, sobre a peña dos irmãos. A organização da Reforma Universitária, iniciada em 67, começou em peñas de universidade. Estudantes formaram atos, greves e ocupações, os protestos eram apoiados por artistas. Víctor Jara, compôs “‘Móvil’ Oil Special" em homenagem ao movimento.


"En la universidad/ se lucha por la reforma/ para poner en la horma/ al beato y al nacional/ Somos los reformistas,/ los revolucionarios,/ los antiimperialistas,/ de la universidad" - "Móvil" Oil Special, Víctor Jara

A popularização do estilo de Peña de los Parra e o desenvolvimento dos artistas nacionais culminaram na declaração de 1969 de García. Ao usar o termo "nova canção chilena" para descrever o inovador e político neofolk. A declaração também fez um convite para a organização de um festival, e no mesmo ano, artistas se reúnem no I Festival da Nova Canção Chilena. Outros festivais foram organizados, o segundo, em 1970, na véspera das eleições presidenciais, teve grande influência política. As eleições tiveram o engajamento dos artistas, os três candidatos, que tinham posicionamentos intensamente contrários, possuíam algum apoio dos músicos. Salvador Allende, presidente eleito da Unidade Popular, partido à esquerda, teve a campanha apoiada por Victor Jara e os irmão Parra sob o lema "Não há revolução sem canção".

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