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Histórias de mulheres contadas em podcast

Vinícius Barboza

Um bate-papo com Marcela, idealizadora do “Baseado em Fatos Surreais”

 

“Histórias de mulheres como nós, compartilhadas com empatia, intimidade e leveza”, diz a voz agradável da locução ao início de cada caso que será contado. As narrativas de pessoas como você mulher, ou como Marcela, são matéria-prima para que os detalhes mais “surreais” delas sejam ressaltados em um gostoso podcast feito para que mulheres ouçam e se identifiquem.


O programa “Baseado em Fatos Surreais”, projetado entre março e abril de 2016, narra histórias na primeira pessoa, fazendo com que o público se sinta parte delas. A mente por trás dessa ideia é de Marcela Ponce de Leon, que desejou aliar sua paixão em produzir podcasts à intenção de fazer algo em nome do empoderamento feminino.


Marcela Ponce de Leon, idealizadora do “Baseado em Fatos Surreais”, nos estúdios da produtora Tabasco Filmes. Foto: Reprodução/Arquivo pessoal


Marcela é formada em História e Biblioteconomia pela USP, e sempre gostou de aprender de tudo. “Eu decidi fazer o curso de História por amor, por gostar de estudar, de ler, ser curiosa”. Durante o curso ela teve contato com disciplinas variadas e realizou um estágio em que aprendeu conceitos de tecnologia. Quando optou pela segunda graduação, não teve dúvidas: “queria trabalhar com informação, conteúdo, conhecimento”.


As afinidades pela tecnologia e pela informação somadas a um amor pelo rádio cultivado na infância trouxeram Marcela até o mundo dos podcasts. “Eu escutava muito rádio quando pequena. Acompanhava desde 2011 um podcast da BBC chamado ‘6 Minute English’. No fim de 2014 eu comecei a escutar o ‘Mamilos’, ‘Scicast’, ‘Dragões de Garagem’, ouvindo muita coisa diferente e apaixonada pelo formato”, relata.


“Pra tudo que você for fazer, tenha a cabeça aberta pra qualquer tipo de conhecimento e experimente coisas diferentes.” – Marcela sobre a experiência de aprender tecnologia durante seu curso de Humanas.

Ela então iniciou seu primeiro projeto como produtora de conteúdo, no qual debatia temáticas como “O que é gênero?” ou “O que é ser gente grande?”. “Eu e um amigo criamos um podcast chamado ‘Mindfuck’, que discutia assuntos gerais. Era muito legal”. Ao mesmo tempo, engajada com coletivos feministas, começou a frequentar o evento mensal “Futuros Femininos”. “Lá eu conheci muitas mulheres e vi que todas temos muitas histórias para compartilhar. Comecei a pensar no ‘Baseado em Fatos Surreais’”.

Surgimento e formato do “Baseado em Fatos Surreais”

O conceito atual começava a ser moldado em sua cabeça, e no mesmo evento Marcela conheceu sua atual parceira na contação de histórias surreais, Sheylli Caleffi. “No primeiro encontro que eu tive com ela, eu a convidei e disse: ‘Eu tenho uma ideia de fazer um podcast para contar histórias de mulheres. Você topa?’. E ela disse ‘Topo!’”, relembra.


Marcela e sua parceira no projeto, Sheylli Caleffi. Foto: Reprodução/Arquivo pessoal


A princípio, o “Baseado em Fatos Surreais” seria um programa roteirizado. Porém, Marcela e Sheylli concordaram que o formato seria mais trabalhoso. Elaboraram então o desenho atual, em que narram as histórias com um teatro de improviso.


No início, Marcela editava todos os episódios. Conforme o programa foi crescendo e ganhando relevância, ela decidiu dar um passo além. “Comecei a fazer uma parceria com um editor, que começou a colocar efeitos sonoros, uma trilha mais apurada e cuidar mais da qualidade do áudio”, afirma a podcaster.


“Aprendemos e entendemos muitas coisas por meio de histórias. Elas nos consolam de certa forma quando passamos por momentos difíceis e ouvimos a história de alguém parecida com a nossa.”


Os maiores obstáculos de Marcela são a falta de tempo e de verba. “Eu ainda estou investindo para aprimorar a edição, hospedagem. Se tivermos apoio conseguiremos mais recursos pra poder melhorar, pagar uma edição, ter equipamento próprio e não depender de parceria”, ressalta.


O primeiro caso do programa, publicado há um ano e com mais de 1200 reproduções na plataforma SoundCloud, relata a história de uma moça que saiu com dois homens ao mesmo tempo. “Uma amiga próxima minha, educada em uma família com valores tradicionais, ouviu a história e comentou, ‘Se fosse um homem em vez da mulher não seria surreal. Seria até normal’. Quando ela me disse isso eu pensei: ‘Esse é o ponto!’”.


Com temas diversos, os episódios conseguem propiciar identificação e representatividade às ouvintes. “Mesmo quando contamos histórias de sacanagem, que parecem bobagem, tem sempre alguma coisa que é um tabu para muita mulher. Por isso não nomeamos os personagens, a história é narrada como se fosse minha. Trabalhamos a empatia”, afirma Marcela.


Machismo na podosfera


O conceito de “podosfera”, diz respeito a tudo que abrange os podcasts. Assim como na sociedade, o machismo também deixa suas marcas nesse universo, majoritariamente masculino. “Quando eu comecei a fazer meu trabalho, fui atrás de mulheres que também produzem podcast. Foi assim que conheci a Ira Croft (produtora de conteúdo), que lançou a hashtag #MulheresPodcasters e propôs que nos organizássemos mais em volta disso”, conta.


Ao navegarmos pela tag no Twitter, encontraremos uma pequena parte do que é produzido por mulheres, afirma Marcela. “Hoje estamos em um trabalho de divulgação da hashtag e conscientização das meninas que produzem conteúdo para que a usem e juntas possamos nos empoderar, ganhar força e visibilidade”.


Características marcantes e relação com o público


Alguns aspectos do programa realizado por Marcela o tornam especial e cativante, como a variedade de assuntos abordados. “Desde o início a gente fala que não importa o tipo de história, se alegre, triste, tensa ou difícil, o assunto é a vida e o detalhe é o surreal”, diz.

“No final do dia eu quero que uma mulher escute uma história dessas e reflita, repense, questione e cresça.”

Mas talvez a principal marca do programa seja ter inúmeras características que agradam a públicos diversos. “Tem pessoas que gostam de as histórias serem variadas, outras que curtem as histórias serem anônimas e de fácil identificação pelo público, gente que gosta por poder escutar assuntos que nunca teve a oportunidade de ouvir”, cita a podcaster.


Os casos mais tensos propiciam desafios enormes, mas também satisfação com o retorno de quem a acompanha. “Fazer histórias que falam de luto, aborto, abuso, são temas mais delicados. Mas ao ouvir o feedback das pessoas, é muito prazeroso. Eu vejo que estou alcançando meu objetivo de fazer as pessoas refletirem a partir da experiência das outras”.

Logo do “Baseado em Fatos Surreais”. Ouça o podcast na plataforma SoundCloud ou por meio de aplicativos. Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Marcela finaliza incentivando as pessoas a tirarem as ideias do plano da imaginação, colocando-as em prática: “o ser humano é naturalmente muito criativo, e a gente às vezes deixa as ideias se perderem. Buscando a perfeição, adiamos os sonhos e não fazemos nada. Faça, crie coisas e ponha seu projeto na rua. Assim, a vida é muito mais legal”.


Se você gosta de ouvir boas histórias e deseja acompanhar o “Baseado em Fatos Surreais”, clique aqui. Você mulher, quer ter sua história surreal narrada pela Marcela? Envie por aqui. Para apoiar o podcast, o link é esse.


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